...por anos era assim que eu acordava: 04 da manhã, lá estava "ieu" vivendo na minha velha e boa Ponta Negra (Natal/RN)!!

domingo, 17 de abril de 2011

AMIGOS


 Eu sou seu amigo? Quem são seus amigos? O que são amigos? Por que algumas pessoas se tornam realmente amigos e outras não? Você é amigo de alguém? Tem certeza disso?
           


... do site seuorkut.com.br
 Das inúmeras pessoas que passam por nossas vidas, algumas nos marcam justamente por se tornarem nossos amigos. São aquelas que ficam “guardadas” numa pasta especial em nosso HD. E, quando estas são lembradas, junto da imagem e dos momentos compartilhados, surgem também sentimentos bons e gratificantes. Acredito sim que os amigos – amigos de verdade – têm um lugar especial onde são armazenados. Um lugar cativo e específico, só para os amigos.


... do blog patodemagogo.blogspot.com

            Quando era bem pequeno, eu e meu irmão mais velho chamávamos meu avô materno de Amigo. Não pelo fato dele ter o mesmo nome que eu, mas acho que começamos a chama-lo assim porque sempre pedia para cantarmos uma música que dizia: “Amigo, por favor leva esta carta, e dá praquela ingrata, que roubou meu coraçããão...”. Era engraçado. Imagine dois “projetos-de-gente” por volta dos 4 ou 5 anos cantando isso a todos pulmões, e ainda com a voz tremida. Isso provocava gargalhadas em todos os demais familiares presentes. Como a felicidade sempre é algo contagiante, aqueles momentos sempre me faziam bem. Particularmente, gostava de ver as risadas sinceras do meu avô - onde o sorriso ia além da boca, expressando-se também nos olhos, nas bochechas e no bigode.
            Logo, criança ainda, associei esse sentimento tão bom ao meu vovô, que além de nos tornar “cantores”, no pouco contato que tivemos com ele, sempre demonstrou alegria em estar conosco. Às vezes nos levava ao seu trabalho, no porto, onde eu e meu irmão ficávamos toda a tarde “perdidos” pelas montanhas gigantescas de soja, escalando aquelas esculturas orgânicas. Outras, deitava conosco e contava histórias sobre as situações que ele “vivera”, nas suas lutas contra índios e soldados inimigos. Era muito bom estar com ele, mesmo quando íamos à missa ou quando ele estava reformando (sempre) parte da sua casa, martelando  ou desentortando pregos. Ou então quando ele fazia seus famosos churrascos. Em todas as ocasiões, sempre era bom escutá-lo falar qualquer coisa. Era bom simplesmente estar perto dele.
            No dia dos namorados de 1987, quando eu tinha 19 anos, ele se foi. Eu o vi ali deitado, entre flores e lágrimas por toda a noite. Algumas pessoas choravam, lamentavam a perda, mas eu me sentia entorpecido. Conversava com alguns parentes, sem realmente haver me dado conta que ele estava morto. Até ataque de riso tive durante o velório. Foi quando, ao amanhecer, quando fecharam seu caixão, percebi que nunca mais em minha vida eu teria a chance de conversar novamente com ele. E chorei...


... do blog dentadadecusco.blogspot.com

            Uma das coroas de flores que ornou seu túmulo dizia: “Amigo: serás eterno. Tuca, Kiko, Bebo e Neni”, assim, perdi um amigo. E mesmo que consiga senti-lo quando falo nele, quando lembro ou mesmo quando escrevo agora, quando canto “Amigo” ele nunca vai estar aqui me olhando e rindo de mim...
Amigos.
            O que são amigos?
            Não sei se por uma questão de critérios, mas algumas pessoas não separam amigos de colegas. Basta conhecerem alguém e chamá-los de amigo. Afinal, um amigo pode ser alguém que você conhece num bar e sua amizade se restringe àquele ambiente: vocês só se encontram ali, sempre bebendo e filosofando. Ou alguém que divide o mesmo ambiente de trabalho que você por horas a fio, criando-se assim certa intimidade, uma cumplicidade até. Talvez seja alguém que lhe emprestou dinheiro “naquele” momento, mesmo sabendo que a possibilidade de você saldar esta dívida seja mínima. Em qualquer situação, amigo pode ser aquele que nos faz bem.
            No meu caso, meus pais são meus grandes amigos. Não por serem meus pais, mas por transcenderem a essa “profissão”, sendo meus amigos. Nunca desejam meu mal, gostam de mim, aceitando-me como sou, me escutam, me aconselham, emprestam-me dinheiro quando necessito em parcelas à perder de vista (muitas vezes sem retorno), acreditam em mim, me aguentam e até me leem. Enfim, temos empatia.
            Falando em “tia”, no rol dos meus amigos também estão meus irmãos (pelos mesmíssimos motivos que meus pais) e muitos dos meus parentes - praticamente todos os que conheço. Sim, tive sorte com parentes. Mesmo que estejamos distantes histórica e geograficamente, eles são meus amigos. A pouca convivência que tivemos me fez sentir essa amizade. Cônjuges com certeza são nossos amigos – assim como namoradas e amantes em geral. Pelo menos durante o relacionamento. Esta é minha opinião, baseada em minhas experiências. Afinal, para haver uma relação, há um “clique” inicial, uma empatia, que geralmente se desenvolve num companheirismo, numa cumplicidade e principalmente numa amizade. Sinto meus enteados e enteadas também como meus amigos. Dos 22 aos 8 anos, todos os 4 são meus amigos, porque gosto deles. Gosto de perturbá-los, de escutá-los, de vê-los ao final do dia, enfim, de estar com eles. Mesmo quando eles decidem me pentelhar. Sogros e sogras, embora não sejam parentes sanguineos e costumem figurar mais nas piadas mórbidas do que na categoria de amigos, no meu caso os considero assim. Amigos, pois sei que me querem bem, e vice versa.

do site maxdiversao.com.br

            Mas, e os que não têm parentesco? E as pessoas que conhecemos no decorrer da vida, o que faz com que algumas se tornem nossos amigos e outras não? Por que, às vezes, conhecemos alguém sem nenhum motivo aparente, simpatizamos, tipo aceitação inicial gratuita? Como se sentíssemos que aquela pessoa é “legal”.
            Costumo dizer, muitas vezes em sala de aula, que existem três tipos de pessoas que cruzam nosso caminho. Existem as que assim que vemos, logo nas primeiras conversas, sentimos algo positivo em relação a elas. Estas nos caem bem, e mesmo sem ainda conhece-las, sabemos que elas valem à pena. Há também as que nos provocam reações adversas: assim que batemos o olho, percebemos que o melhor a fazer é manter distância. Isso não quer dizer que elas sejam “do mal”, mas simplesmente elas não “batem” conosco. E há as pessoas que são como chuchu sem sal. Ou, como diz minha mãe, “Não fedem nem cheiram”. A gente nem lembra que elas existiram um dia.
            Acredito que tudo isto esteja ligado ao sentir. Como uma voz que dispara algo dentro de nós assim, do nada. Woody Allen, no filme “O Escorpião de Jade” explica porque o sentir vale mais que o pensar. Segundo ele, quando pensamos, usamos o cérebro, que é cinzento e imóvel. Ao sentirmos, estamos usando o coração, que é vermelho por ser o local por onde circula o sangue. O sangue percorre todo o nosso corpo, e por isso sabe de tudo o que se passa com este. Já os neurônios estão sempre lá, parados, pensando e criando teorias sobre o que nos acontece, sem saber exatamente o que vivemos. Sábio, não?
            Quantas vezes você pensou em fazer algo e uma voz lá de dentro tentou te alertar para não fazê-lo, e você não a ouviu? Ou ao contrário, sua lógica o afastou, seja por medo ou precaução, de dar um passo que a tal voz insistia naquela direção? E ao não ouvi-la, você se arrependeu depois que o momento passou...

... do site bitscaverna.com.br

            Chamo isso de clique. E, quanto à amizade, com todos os meus amigos, num determinado momento, houve esse clique. Os que não tiveram clique não viraram inimigos, mas nunca foram promovidos a amigos. Quando escutamos esse clique, este pode confirmar-se com a convivência. O tempo, além de tudo curar, tudo mostra. nas diversas situações pela vida vamos percebendo se havia mesmo uma amizade ou se era apenas “camaradagem”. Do tipo amigos-de-ocasião. Isso não quer dizer que esses sejam pessoas ruins ou falsas, é apenas uma questão de diferenças, de interesses distintos entre vocês. Do mesmo jeito, muitas pessoas convivem conosco acreditando que somos seus amigos, quando nós mesmos os consideramos apenas colegas ou conhecidas. Aí é porque não houve clique de nossa parte. Mas, quando há o tal clique, uma amizade pode durar anos, atravessando várias fases de nossa vida e sobreviver, mesmo quando nossos interesses e objetivos mudam. Pode inclusive ser tão forte que nem a distância física enfraquecerá essa amizade.
            Minha primeira amizade em Natal/RN foi com uma menina. Conhecemo-nos durante o vestibular, não fazia dois meses que eu tinha mudado para o nordeste. Naquela época, para um cara de 18 anos, vindo do sul, tudo era diferente. Hábitos, costumes, paisagem, até o sotaque – me era difícil às vezes entender o que as pessoas diziam. Conversando, descobrimos que morávamos próximos. Que tínhamos pensamentos, interesses e forma de pensar semelhantes. Ela foi, durante muitos anos, minha companheira de todas as horas. Engraçado: mesmo que na época eu estivesse no auge da minha “vaginite cerebral”, nunca aconteceu nada de mais íntimo entre nós. Muitas vezes até dividimos o mesmo quarto, a mesma cama até. Matávamos aula para assistirmos ao programa do “Chaves” lá em casa, saíamos juntos, bebíamos aos montes, conversávamos... Éramos bons amigos.
            Na sua primeira gravidez, devido à ausência do pai e à minha proximidade, muita gente afirmava que eu era o responsável por aquela barriga. E nós, junto da família dela (mãe e avó, também minhas boas amigas) ríamos de tudo isto. Não a vejo há muito tempo, mas sei que hoje ela está bem. E quando lembro esta fase da minha vida, o carinho que tive por ela me faz torcer sempre por esta amiga especial.

... do site flickr.com

            Quando nos separamos de alguns amigos, esta separação só acontece a nível físico, pois de alguma maneira, sentimos que um amigo sempre estará aqui conosco. Richard Bach num de seus livros disse que a verdadeira amizade não depende do espaço nem do tempo, e que ha certeza de um reencontro para os que são verdadeiramente amigos. Acredito, sinto e sei disso.
            Na Universidade convivi com diversas pessoas. Muitas por companheirismo e camaradagem nomeavam-me um amigo. Então tive amigos-de-farra, de surf, de estudos (esses muito poucos), de bares... Em geral eu me dava bem com quase todo mundo. Mesmo que não tivesse dado nenhum clique, muitas pessoas participaram de vários momentos meus. Eu não costumava “sacanear” ninguém gratuitamente, embora sim o tenha feito em algumas ocasiões - afinal o simples fato de sermos humanos nos predispõe a isso, mesmo que involuntariamente.
            É engraçado como as “cousas” acontecem. Lembro-me de um dia quando estava no ônibus, indo para a Universidade. Era o meu primeiro ano dos muitos subsequentes que viriam como aluno de Engenharia Mecânica. Também era o meu primeiro ano na cidade e eu estava refazendo meu círculo de amizades pela enésima vez, resultado de uma emocionante vida de cigano proporcionada pelas inúmeras mudanças que fiz ao longo da vida devido à profissão do meu pai.
            Então, no ônibus, outra vez estava aquele cara. Ele sempre subia e descia na mesma parada que eu, mas nunca havíamos conversado.  Ele era alto, moreno, com uma cabeleira meio “rasta” comprida, algo não muito comum n aquela época. E usava óculos. Lá estávamos nós tal qual sardinhas apertadas em uma lata, quando duas pessoas começaram a conversar animadamente. Não sou de prestar atenção às conversas alheias, mas naquela situação era inevitável não inteirar-se do assunto. Foi quando uma delas, uma menina que falava sobre geografia, referiu-se aos “Alpes Suínos”. Isso em alto e bom tom. Simplesmente não deu para conter o riso. Querendo disfarçar, virei o rosto e vejo o tal cabeludo praticamente mordendo a boca para não rir. Foi inevitável conversarmos às gargalhadas ao descermos. Ali começava uma amizade que dura até hoje, mesmo tanto tempo depois, quando ambos estamos praticamente desprovidos de nossas respectivas coberturas capilares e moramos tão distantes.

... nao sei porque eu estava escondendo o rosto.. olha a cabeleira do amigo...

            Vivemos muitas situações juntos. Mais do que farras –em sua maioria homéricas – atravessamos várias fases de nossas vidas. Casamentos, filhos, divórcios, “re-casamentos”, angústias, alegrias e porres, muitos porres! Dentre muitos dos meus amigos, este foi um daqueles cuja empatia foi atípica. Sem viadagem! Lembro-me que às vezes ele ia lá em casa, sentávamos nas escadas do edifício onde eu morava e ficávamos um bom tempo ali, praticamente mudos. Era uma época em que eu vivia confuso, angustiado, pois estava dividido entre ser um bom pai e um bom marido ou seguir o “chamado selvagem” que a vida com todas as suas mulheres me oferecia. Às vezes sentia-me bem em seguir tal chamado. Outras, culpado de não conseguir evitar. E aquele silêncio, aquela pausa de tudo me fazia bem. Depois, falávamos algumas amenidades e nos despedíamos. Isso faz tanto tempo! Dia desses recebi um e-mail desse amigo dizendo-me que uma de suas enteadas está grávida. Tento imaginar sua alegria, pois ele está casado há muito tempo, tempo suficiente para ter visto todas elas crescerem, acompanhando-as. Nossa agora só consigo imaginá-lo de chapéu, chinelos e meias, vestindo uma calça de tergal e com um bigodinho branco... Parabéns, “Vovô”...!!!
            Pois é. Amigos. Nunca consegui entender – nem aceitar – ciúmes entre amigos. Talvez por eu nunca tê-lo sentido. Sei que este tipo de sentimento é mais comum entre as mulheres, principalmente as adolescentes. Mas, acredite, isto também existe no universo masculino. Pessoalmente acho uma demonstração de egoísmo – e nos casos masculinos, de “boiolagem” mesmo! Afinal, se você tem um amigo, com certeza deseja sempre o bem para ele. E você também sabe o quanto é bom ter amigo. Então, por que não ficar feliz em ver que seu amigo está bem quando tem um novo amigo? Mais de um amigo, mais de um “sentir-se bem”. Não é logico?

... do blog polosul.blogs.sapo.pt

            Tive amigos que chegaram assim, meio que por acaso, como um amigo do meu irmão mais velho. Bom, parto do princípio que, só em ser amigo do meu irmão – que é um grande amigo meu – sujeito tem que ser “boa gente”. Ele aparecia lá em casa para estudarem juntos. A princípio, além da amizade com meu irmão, o que tínhamos em comum era muito senso de humor e uma adoração por elementos etílicos em geral.


... do site br.orkutnow.com
 Com
o tempo ele começou a se interessar pelo surf – essa sim a minha praia! Então ele comprou sua primeira prancha e começou a surfar comigo. Logo conversávamos, bebíamos, surfávamos, “mulherávamos”, acampávamos, quase sempre acompanhados de muitos outros amigos. Esse cara foi – e é até hoje – um bom amigo. Quase careca também (não sei porque o tempo insiste me levar-nos os cabelos). E, claro, ainda surfa. Um cara de bom coração, um amigo daqueles que sempre estão dispostos caso você necessite de um bom papo, um surf, umas birras ou até um violão... O cara toca. E muito!

... do site forum.outerspace.terra.com.br

            Então, amigos de verdade transcendem à qualquer limitação – espaço ou tempo. Você pode ficar anos sem vê-los, mas sabe que nem a distância nem o tempo irão dissolver a uma verdadeira amizade. E o que fazer quando um amigo se vai assim, para sempre? Será que o perdemos?
            Quando regressei ao Brasil após ter vivido 2 anos na Venezuela eu estava ávido para voltar a surfar. Para descontar esse “atraso surfístico” passei a acordar um pouquinho antes do sol para poder aproveitar as ondas ao máximo. Durante muito tempo minhas únicas companhias eram alguns golfinhos ocasionais, aves e peixes. Também alguns bêbados que perambulavam pela praia negando-se a admitir que a noite acabara.
            Foi quando comecei a dividir o “line up” (lugar onde eu ficava esperando as ondas) com outro surfista, após muitos meses de surf madrugador solitário. Era um mineiro baixinho, sempre sorridente, de cabelos claros e encaracolados ao estilo “Urso Xampu”. Começamos a conversar e logo nossa amizade ultrapassou o nível do surf. Ele era um “cara do bem”. Durante muitos anos vivemos muitas situações juntos. A forma com que encarávamos a vida em si, a nossa paixão pelo surf, a positividade em relação ao mundo, tudo isso fortaleceu nossa amizade. Pude acompanhar seu desenvolvimento econômico e ele gostava de dizer que eu o conhecia desde a época que ele era pobre. Não que ele tenha enriquecido, mas prosperou muito na sua área de atuação. Ele era um vendedor nato. Representante comercial de grandes marcas do surf. O cara era tão bom que até eu, notório “mão-de-vaca” comprava seus produtos. O melhor de tudo é que, mesmo tendo progredido financeiramente, nunca mudou sua forma de ser. Pelo menos não comigo.
... do site desenhoseseriadosantigosclub.com.gif


            Ele era uma dessas pessoas que transmitem paz. Harmonia mesmo, daquelas que contagiam a gente. O tipo de pessoa que não perde tempo preocupando-se com a vida dos outros invejosamente. Não lembro de ouvi-lo falando maliciosamente da vida de ninguém. Tipo de amigo que a gente sabe que pode confiar. Pois é, ele era assim.           
 Era. Numa segunda-feira à noite minha “ex-posa” (na época ainda esposa) me disse, quando retornei do trabalho, do acidente. Ele voltava de uma viagem de negócios. Uns dois ou três dias antes tínhamos feito nossa enésima “surf trip”, e havíamos já marcado a próxima para quando ele voltasse, na terça-feira. Ele vinha dirigindo pela estrada e decidiu ultrapassar um caminhão. Confiou em seu Escort novo que corria muito. Mas vinha uma ambulância na outra pista. E também correndo. Dizem que ele não sentiu nada. Que morreu instantaneamente. Acredito, pois lembro-me que no dia do seu velório ele estava com um leve sorriso no canto da boca. A mesma expressão de quando estava vivo, só que de olhos fechados. Dava a impressão que a qualquer momento ele ia abrir os olhos e rir de todos que ali estavam, pregando-nos mais uma de suas peças. Nunca vou esquecer isto. Mesmo ele não estando mais aqui, ele estava sorrindo. Este é um amigo que faz falta...


... de um site que esqueci de pegar o nome, mas há muitas dessas na Internet
 
            Então, ter amigos é isto. É sentir-se bem, é ter empatia, identificar-se com alguém. Uma amizade pode não se aprofundar em convivência e, mesmo assim, ser também uma amizade. Às vezes conheço pessoas assim. Alunos, colegas de trabalho, conhecidos em geral. Muitas vezes não chego a aprofundar um relacionamento com estes, do tipo que a gente frequenta sua casa, sai junto para umas cervejas, ou sequer entra no terreno de assuntos mais pessoais. Mesmo assim, em alguns casos, sinto que posso tranquilamente denomina-los amigos. Coisas do clique talvez...

... do site blogorigem.blogspot.com
             Sinto meus filhos também como amigos. Todos os três. Mesmo que estejamos distantes, mesmo que nem todos eles me liguem mais frequentemente ou mandem e-mails, eu os tenho como amigos. N ao sei se em parte e a culpa é do sangue ser o mesmo, ou da hierarquia, mas sinto que há amizade entre nós.
             Por ser uma pessoa essencialmente conversadora – falo tanto que até me pagam por isto – sempre gostei de conversar com os meus “rebentos”. Mesmo quando estes ainda eram fetos. Eu colocava a boca na barriga das suas mães, na altura do umbigo e falava com eles. Sabia que podiam me ouvir. Quando eles balbuciavam seus primeiros “Aaaahs” e “Uuuuuhs”, lá estava eu, falando e falando com eles, conversas profundas sobre o mundo, as mulheres, a vida, e era realmente como uma conversa de verdade! Depois, criei o “Amigo”. Quando eles queriam conversar sobre algo que eu, o pai, não podia saber (geralmente nas ocasiões em que eles aprontavam algo proibido) me pediam para falar com o Amigo. Então eu gritava por ele, me contorcia, às vezes até pulava, virava o rosto em várias direções e lá estava eu, com uma careta engraçada e constante, um olhar diferente e com outra voz. Agora quem estava ali com eles era o “Amigo” e o que quer que eles me contassem, eu não podia brigar com eles. Nem contar para o pai deles – ou seja, para mim mesmo. Confuso, não? Como “Amigo” eu ria de suas peripécias, contava-lhes algumas que seu pai aprontara quando pequeno e procurava a maneira mais sutil para aconselhá-los. Isso sim era difícil, pois não podiam ser conselhos de pai e sim do “Amigo”.
...do site euacidentalmente.tumblr.com
            O tempo foi passando, eles foram crescendo e o “Amigo” foi perdendo sua credibilidade. Nosso canal de sinceridade ia-se afunilando. Então, numa determinado momento, após eles terem aprontado algo realmente “da pesada”, encontrei-me numa situação onde a mãe dos meus dois filhos mais velhos berrava-lhes furiosa, querendo que eles confessassem algo e eles simplesmente empacaram. Não havia jeito de tirar-lhes a verdade. Percebi a inutilidade daquele momento e os tirei da sala, levando-os para a varanda do meu apartamento. Lá, fechei a porta e ficamos só nós três ali, isolados dos demais. Inspirado pelo filme “A Espera de Um Milagre”, numa cena onde Tom Hanks explica a um guarda novato que “... os problemas da milha ficam aqui, dentro da milha. Não saem nunca daqui!”, criei nossa milha. A varanda! Não sei por que se chama milha, mas assim o fiz. Era lá que aconteciam os “papos de milha”, onde tudo o que dizíamos ficava sempre só entre nós. E para que eles confiassem em mim, senti que deveria haver reciprocidade. Então, quando eu queria saber algo deles, pedia para que antes m perguntassem qualquer coisa, e prometia que não mentiria para eles. Mas, depois, seria minha vez. Simples como um segredo. E assim foi.
           


... do blog mryukyha.blogspot.com
 Às vezes, até hoje isso acontece. Um dia destes um deles me ligou e foi logo dizendo: “Pai: papo de milha...”. Confesso que sempre que escuto isso vindo deles, tremo, dá um medo, mas ao mesmo tempo sinto-me bem. Sinal que ainda confiamos uns nos outros. Que somos amigos. Sei que, como pai, falhei muito – talvez como todo pai que se preze. Mas, mesmo assim, sempre procurei tê-los como amigos. Talvez herança da amizade que sinto pelo meu pai (e pela minha mãe também). Hoje, não consigo ser companheiro deles, pois a distância geográfica entre nós é enorme. Mesmo assim, acredito que eles saibam que em mim eles têm um amigo de verdade, daqueles que eles podem contar quando precisarem. Espero que eles saibam disso, de coração, e que sintam por mim a mesma amizade que sinto por eles.
            Amigos, amigos, amigos...
            Amizades acabam?

... do site scrapsdinamicos.com.br

            Sim. Acredito que sim acabem, pois como tudo no mundo, as pessoas são inconstantes. Elas mudam constantemente sua forma de pensar, seus objetivos e interesses. Algumas evoluem, outras “involuem” até, mas mudanças são inerente ao ser humano. Ninguém está imune a isto. Alguém me disse uma vez, há muito tempo, que toda a amizade é uma troca de interesses. Por mais frio e desumano que possa parecer, é a mais pura verdade. Eu acrescentaria ainda que, além da amizade, qualquer tipo de relacionamento segue tal preceito também. Relações no trabalho, relações comerciais, relações amorosas também – ou você costuma amar alguém que não o ama? Quase sempre nos aproximamos de alguém por termos interesses comuns.
Gostos comuns, do tipo surfar, beber, estudar, filosofar e outra infinidade de “cousas”. Pontos de vista semelhantes em relação a alguns assuntos. Enquanto estes interesses forem compatíveis, perdura a amizade ou a relação em si, pois haverá uma troca de informações e conhecimentos, onde um completará o outro. Como se, por instinto, buscássemos sempre uma relação que nos supra alguma deficiência nossa.


... do site desventura.org

Mas quando, com o tempo, mudamos nossa forma de pensar e agir, muitas vezes quebra-se a compatibilidade que havia, a simbiose. Como se não mais necessitássemos da convivência. Afastamo-nos sem dor ou traumas, quase que inconscientemente. É um processo muitas vezes imperceptível de distanciamento natural. Uma mudança de estágio, onde buscaremos outros relacionamentos para suprirmos outros pontos – e supriremos também a outras pessoas.
            Fica-nos então a saudade, a lembrança de uma boa amizade, algo que hoje já não faz mais parte da nossa realidade, do nosso novo mundo. Não porque não gostamos mais da pessoa em si, senão por não mais haver interesses em comum. Ou seja, a relação não mais trará nenhum benefício.
            Algumas amizades, porém, sobrepõe-se a isto. São aquelas que, mesmo em mundos diferentes, mantém a certeza da disponibilidade de um amigo. Essas são poucas, mas sim existem. São as que superam as distâncias e ao tempo, mesmo com todas as suas mudanças. Dizem que algumas até transcendem à vida. Explicam que nesses casos as “almas” destes amigos já se conheciam em outras encarnações, e que têm missões a cumprirem, e por isso mesmo se reencontram a cada renascer. Outros preferem acreditar que uma amizade deste tipo é obra de deus, que tudo tem planejado no livro do destino. Prefiro acreditar numa simples questão de identificação, sendo esta muito forte e vinda de ambas as partes. Tipo, algo mais que um clique – um “duplo clique.”

... do site portuguelandia.com.br

           

E assim, nestes casos, temos a certeza que, mesmo em mundos tão diferentes hoje, esta amizade sempre vai estar lá, guardada em algum lugar para sempre. Um lugar muito além da saudade e da lembrança. Simplesmente, além da memória, em algum lugar...


... do site fedaputagem.zip.net.bmp

Este texto é dedicado, claro, a todos os meus amigos. Aos que tive e aos que ainda tenho. Sei que muitos não foram citados aqui, mas isso não significa que eu não os considere. Se não o fiz é porque há um limite para os textos a serem publicados, além de também haver um limite para a paciência de qualquer leitor. Por isso, tive que optar em escrever só sobre alguns. Mas sei da importância que TODOS os meus amigos tiveram em minha vida. Não importa se tal amizade foi breve ou se dura até hoje, cada um de meus amigos, naquele determinado momento, naquela ocasião específica, ajudou para que eu chegasse onde cheguei agora. TODOS contribuíram para que eu hoje seja quem sou. Logo, se sou assim, a culpa, em parte, também é de vocês! Então, obrigado, amigos!Aos amigos de escola, da rua, dos bares, do surf, do trabalho, da Venezuela, do Cochinchina, das Arábias, de muitas aventuras; aos que foram amigos por pouco tempo e aos que ainda mantenho contato! E que fique bem claro aqui que se uso a palavra no masculino é apenas por uma questão gramatical, pois aqui se incluem todas as amigas também. E se por acaso você ficou de fora neste texto pode ter a certeza que, no momento em que escrevi isto, lembrei de você. Sim, foi como um desfile do meu passado, onde todas as amizades minhas apareceram diante de mim para ou “Oi”. Pois se você é ou foi meu amigo, na minha lembrança, seu lugar é vitalício. Obrigado, amigo...

10 comentários:

  1. Ótimo post, comecei a ler e quando vi já estava em SC.
    Escreva sempre.

    Juízo, tio Domingos? Hahaha.

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  2. Nossa! Adorei! A vida é um rio que passa e os amigos são as pedras que sentem a vida passar mas a constância da amizade, do amor fica. Algumas pedras "soltas" verão a vida passar e passarão com ela, esses são os amigos de momentos, que passam junto com o momento (não deixam de ser importantes, pois foram momentos bons). Meu avô morreu quando eu tinha apenas 7 anos de idade e SEMPRE me lembro e senti a amizade que tinha comigo, a sua força, a sua honra (daquelas que só precisa da palavra).
    Hahaha, lá vai eu nas ondas de pensamentos que você nos ofereceu.
    Continue escrevendo SEMPRE. Adoramos ler você.

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  3. Cris, que bom que você gostou. Ainda melhor saber que viajaste tanto nos escritos que até teletransporte houve... Sim, Sc é O lugar!!! Beijão,boas leituras e juízo tb...

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  4. Pois é, gastrônomamiga, assim são as "cousas". Amigos, bem, o Reiberto Carlos estava certo no que cantou... Sinto que estes são e serão sempre parte de nós, como você disse, pedras num rio. Num mar, com altas ondas!!!!!! Ainda mais quando estes são avós... Beijões....

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  5. Até hoje conto pra todo mundo que comecei amizade com este irmão escritor (meu melhor amigo, anos-luz à frente de todos e que se fueda quaisquer ciuminhos) por conta do episódio dos "Alpes Suínos". Ninguém acredita !!! Pois eis aqui registrado... kkkkkkkkk

    Beijundas, brother !!!

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  6. Adorei! :) Li umas passagens, qndo ainda estavam no rascunho! O texto ficou ótimooo... GOOD! Beijoooos

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  7. Graaande e Melhor-Amigo Aldo!!! Pois é, cara, esta amizade é mesmo das boas - sem viadagem!!! Aquele dia dos "alpes Suínos" realmente foi cômico!!!! Realmente, valeu uma amizade!!! Bjundas, e esperoce por estas bandas, vovô...

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  8. EEEi, RaraRfihi, pois é... além de ler o blog, você teve que escutar a leitura dele... bem feito, quem manda ser minha enteada? Que bom que você gostou. Bjao...

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  9. como diz Pessoa...

    "Viver não é necessário. Necessário é criar".

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  10. Samiiiiraaa, letrada colega e notória amiga: tudo bem por estas bandas? Finalemnte apareces por aqui. Pois é, Pessoa cirou e viveu - por isso foi uma pessoa. E, graaande criador!! Sim, viver não é necessário - necssário é criar... mas, como criar sem estar vivo? Como viver, digo VIVER, sem nada criar? Paradigmas, paradoxos, parábolas, e vou parar com isso... mas, como disse o sábio Von Domingos (1753 até hoje)"Quem vive sem nada criar, não vive, sobrevive...." Beijão... e juízo.
    E, apareça de novo por aqui...

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Leu? então diz algo...