...por anos era assim que eu acordava: 04 da manhã, lá estava "ieu" vivendo na minha velha e boa Ponta Negra (Natal/RN)!!

segunda-feira, 28 de março de 2011

LIBERDADE

LIBERDADE
17/03/2011 – 24/03-2011
Deliberadamente, fiquei um tempo sem postar nada aqui, pois queria que os “fãs-seguidores-leitores-curiosos” tivessem tempo para lerem e absorverem meu último escrito (Demissão Tchau...!!!).
do blog cafepsyco.blogspot.com
                Começo a sentir que um blog assemelha-se a um filho, no tocante à atenção: não dá para ficar muito tempo longe. Assim, o ranço que eu tinha com, os blogs estilo “Querido Diário: Hoje comi ovos fritos no café da manhã...” foi substituído pela compreensão e, por que não dizer, aceitação desse tipo de atitude.
                Ultimamente tenho trabalhado as idéias. Por, supostamente, ter mais tempo livre nesses últimos dias (motivo: ver postagem anterior), ando exercitando o cérebro na alternância entre as mais diversas leituras e reescrever contos antigos. Isso requer paciência e disciplina, virtudes que não domino com tanta destreza. Mesmo assim, sigo nesta batalha.
                 O problema é que tais atividades tomam muito tempo e acabam sendo responsáveis pelo aparecimento de teias de aranha nos cantos do blog. Mas, por favor, não confundam isso com descaso, pois não desisti dos meus objetivos literários. E, podem acreditar: mesmo sem postar nada, sempre que estou na Internet, apareço por aqui para “chamegar” esse meu mais novo filho. Além disso, adivinhe sabe qual minha página inicial no Explorer? Kikomainieri.blogspot.com.  Bem, cá estou de novo. Decidi hoje escrever sobre liberdade.
               

do blog gabrielzanin.blogspot.com

                Liberdade: palavra que, embora fácil de ser compreendida, pode ser aplicada a inúmeras situações, de acordo com o ponto de vista de quem a emprega. O presidiário, quando finalmente fora da prisão, tem seu conceito bem definido. Uma recém separada, que já não agüentava mais viver aquele relacionamento. O ex-empregado, finalmente livre daquela tortura diária. Um ex-fumante, agora um ser saudável e cheiroso. A ex-bancária que, livre do sistema metódico e estressante da instituição, decidiu viajar pelo mundo. Um feliz proprietário do seu primeiro veículo, livre das horas aborrecidas perdidas entre muitos ônibus todos os dias, enfim, a liberdade de cada um depende da situação em que este se encontre. Depende das prisões de cada um.
                Prisões. Todos nós, voluntária ou involuntariamente, ao longo da vida criamos nossas prisões. Sejam estas físicas ou psicológicas, atamo-nos a nossos grilhões e assim passamos a viver, como se nos fosse impossível viver sem estes. Percorremos nosso caminho com dificuldade, incomodados e desconfortáveis com as correntes que nós mesmos prendemos em nossos membros, ansiando por liberdade. Como se fosse necessária a presença de grades obstruindo nossas portas e janelas para percebermos a beleza dos jardins lá fora, onde não podemos pôr os pés. E, seja esta prisão um conjunto de tabus ou conceitos dos quais não conseguimos nos libertar; seja ela uma relação doentia daquelas que não conseguimos nos desvencilhar, ou então um vício qualquer, a luta pela libertação sempre será uma batalha contra nós mesmos.
do site colunistas.ig.com.br
                Então, liberdade é um conceito único, algo muito pessoal. Enquanto vivemos, criamos e destruímos infinitas prisões. Arrisco-me a afirmar que tal comportamento nos é totalmente idiossincrático. Prendemo-nos a idéias, ideais, atitudes, gostos, conceitos, medos e nos moldamos de acordo com os nossos cárceres pessoais. E levamos nossas vidas assim, pensando e agindo em função destes, até que um fator –geralmente externo- desencadeia em nós um certo desconforto, uma insatisfação. É quando começamos a perceber algo errado. Alguns pensamentos e atitudes que antes não faziam parte do nosso jeito de ser, começam a surgir assim, quase que espontaneamente. Inicia-se então o processo de libertação, geralmente doloroso, demorado e conflitante, mas que sempre, sempre resultará em algo positivo. E, mesmo que libertando-nos, estejamos criando novas prisões, ligadas a novos conceitos, a sensação de libertar-se é algo indescritível.
                Do que falo? Tente lembrar-se: Como você se sentiu ao livrar-se daquela relação que te fazia mal? Ao mudar sua área de atuação? Ao perceber alguma virtude sua que você nem sabia ter? Ao sentir-se capaz de realizar algo? Ao se apaixonar... Enfim, já sentiu a sensação de liberdade muitas vezes, muitas delas sem perceber que, naquele momento, você se libertava de algo!
do blog omeumar.nireblog.com
                E para você, o que é liberdade? O que o prende, o incomoda, o angustia? Do que você precisa se libertar? Com certeza, se fizer uma retrospectiva de tudo o que viveu até agora, verá que em cada fase da sua vida suas prisões foram bem “diversificadas” ao longo de sua existência. As prisões dos adultos, por exemplo, geralmente são bem diferentes das prisões da adolescência – isso para os que são adultos de verdade, excluindo-se aqui os “Peter Pans”. As prisões da infância quase sempre nos são risíveis quando nos passamos desta fase. Prisões da velhice estão, em grande parte, associadas às limitações físicas, pois nesta idade, ou já temos sabedoria suficiente para discernir o mundo ao nosso redor, ou então é o Alzheimer mesmo que nos liberta.
                Esta é uma análise interessante. Se voltarmos no tempo para um exame detalhado sobre nossas prisões e liberdades, certamente será mais fácil analisarmos tais questões no presente. Em que fase da vida você estava, quais eram seus sonhos e limitações naquele momento. Se realmente você se libertou, ou vive com tal prisão até hoje. Como lidou com aquela situação. O que aconteceu com tudo aquilo.
do site valeumclick.com
                Quando pequenos, não definimos a palavra liberdade. Simplesmente, somos tão livres que choramos, sorrimos, “cocozamos”, “xixizamos” quando nos dá vontade. Somos plenamente livres, até que nos limitam pelas fraldas – talvez esta seja nossa primeira prisão!
do blog margohwerneck.blogspot.com
                Depois vêm os “nãos”, as proibições: não se pode mais cutucar o nariz durante o almoço, não podemos ver desenho o dia inteiro, não podemos ficar sem tomar banho nem jogar pedras nos carros que passam pela rua. As obrigações também nos prendem: creche, escola, comer com talheres – e de boca fechada, ter que mentir quando ganhamos um presente horrível de alguém: as regras, tão necessárias para o “bom convívio”, são imposições a direcionar-nos, a limitar-nos. Claro, elas podem muito bem ser encaradas como prisões, dependendo de como nossos pais as aplicaram, ou impuseram. E de como eles nos ensinaram, direta ou indiretamente, a lidarmos com limites.
                Olhando o que passou, agora, remetendo-me a um tempo longínquo – numa época em que eu tinha bastante cabelos – e concluo que minhas primeiras prisões de verdade foram criadas no começo da adolescência, talvez um pouco antes. Por volta dos onze ou doze anos, numa fase em que a relação amor-ódio com meus pais começou a se intensificar. Amor: ouvia, admirava e idolatrava meus pais por eles serem semi-deuses, verdadeiros heróis para mim. Ódio: desobedecia, sentia vergonha e raiva deles quando começavam a dar sinais de que eram meros mortais, pessoas comuns de carne e osso, como todo o mundo. Preso ao conceito de que pais deveriam ser perfeitos, não conseguia assimilar seus medos, hesitações e limitações. Minha cegueira não me deixava perceber suas falhas, suas atitudes, enfim, sua normalidade.
do site imagem77.com
                Adolescência: tantos estudiosos definem e redefinem esta fase da vida. Muitas pessoas que “sobrevivem” a esta época sentem-se mal em apenas lembrar que um dia foram adolescentes. Eu, particularmente, o faço com prazer. Era uma situação engraçada aquela: oscilava continua e confusamente entre ser um homem e um menino – Às vezes, ambos ao mesmo tempo. Às vezes, homem, sentia que precisava sair para beber, dirigir, fumar, transar. Outras, ficava deitado sozinho, escondido no quarto, brincando de carrinho ou jogando futebol com as peças do jogo de xadrez, cuja bola podia ser um botão ou uma bolinha de papel amassado. Assim, quando “estava” criança, eu amenizava a prisão de não poder ser adulto e me libertava. Mas era uma liberdade temporária, um indulto, já que a agonia de estar crescendo e os desejos de adulto sempre voltavam. E, cada vez, com força maior. Talvez esta fosse uma questão hormonal até.
do site negociosdojapao.com.br
                O que você vai ser quando crescer? Nesta fase, tal questão era tão fácil de ser respondida que não chegava a ser uma prisão. Eu tinha a liberdade de escolher qualquer coisa: Astronauta, Policial, Bombeiro, Ladrão, Agente Secreto, Mafioso, Super-Herói; o mundo era meu! Minha prisão, aqui, era que eu só podia escolher uma das opções. Então, livre, eu escolhia uma... Uma de cada vez. E eu seria tudo isso quando crescesse.
do blog clavatown.blogspot.com
                Quando os tais hormônios trouxeram-me o sexo, criou-se em mim uma prisão que demoraria muito tempo para ser resolvida. Primeiro, vieram as muitas horas no banheiro, com revistas “contrabandeadas” e imagens captadas furtivamente pelas ruas e casas vizinhas (as fotografias mentais, gravadas para aqueles momentos tão especiais). A vontade da primeira vez era algo incontrolável. Parecia que nunca chegaria o meu momento. Era como nos sonhos, quando corremos por um caminho e, quanto mais avançamos, mais distante fica o final.
               
Com tanta rebeldia, encarava todas as limitações que me eram impostas como prisões. Tinha raiva do mundo por este não ser como eu queria. De não crescer logo, virar logo adulto e ira viver minha vida, viajando pelo mundo sozinho, mochila e prancha debaixo do braço.  Aqui, eu ainda tinha uma gama de opções quanto ao meu futuro de “gente grande”. Mesmo já sabendo que não existiam Super Heróis de verdade, eu ainda tinha muitas possibilidades pela frente. Já entendia sobre algumas profissões e também me prendia às limitações de algumas delas, que me pareciam impossíveis de serem seguidas.
do site blogdotony.com.br
                Assim, muda a idade, mudam os conceitos. Ainda nessa fase, liberdade era poder dirigir o carro que meu pai – sabiamente, vejo só agora – nunca me emprestava, pois ele bem sabia quais eram os outros “ingredientes” que eu misturava na minha liberdade: encher a cara até o limite do vômito, fumar marijuana, surfar o dia inteiro, tatuar-me, chegar em casa na manhã do outro dia.  Naquela época, liberdade era também ter uma namorada para transarmos todos os dias e mesmo assim poder reclamar na cama de outras meninas o quanto ela me prendia. Liberdade era poder sonhar com a independência financeira para poder continuar fazendo todas aquelas loucuras e desejar mais ainda da vida. Mesmo com algumas prisões, eu era como um absorvente íntimo: Sempre Livre!
do blog blogllucas.blogspot.com
                Quanto às profissões, bem, eu era livre para simplesmente não pensar nisso. Livre para acreditar que o futuro se encarregaria de tudo. O vestibular se aproximava, o leque de opções afunilava a cada dia, mas nada disso me preocupava. Eu me sentia imortal, invencível. Sabia que, qualquer que fosse minha escolha, de fome eu não morreria.
                Fase seguinte: adulto. Ou quase. Diria: um jovem adulto. Acabei escolhendo um curso que até hoje não sei o porquê. Mais tarde, um teste vocacional acusou: eu tinha 99% de vocação para ser Engenheiro Mecânico e 1% de interesse em sê-lo realmente. Senhor Contraste Ambulante! Mesmo não gostando, minha prisão me fez continuar por este caminho. Prendi-me aos bares da Universidade, às festinhas, às mulheres, às inúmeras faltas e reprovações – todas por uma causa nobre: surfar! O problema disso tudo é que eu não percebi que o tempo não para. E olha que não foi por falta de aviso.

do site sorrisomail.com
                 Nesta fase minha liberdade era exercida da maneira mais prática possível: saídas noturnas, experiências novas, cursos interessantes, viagens em busca de ondas perfeitas, algumas vezes dormindo ao relento, dentro da capa da prancha, ao som das ondas explodindo nas pedras a alguns metros de mim.
                Mesmo casado – minha mais nova prisão - eu não abria mão das muitas mulheres que cruzavam meu caminho. Culpa da velha prisão sexual. Certo ou errado? Apenas fato! E ela foi agüentando-me assim, marido inconstante, durante alguns anos e dois filhos. Conseqüência dos meus atos: deixar de ser um pai de verdade, um pai integral, e tornar-me um pai de finais de semana alternados. Isso doeu tanto que logo me casei de novo. Eu era livre para fazê-lo. Como também era livre para usar uma aliança, trabalhar, seguir “patinando” na Universidade e, após um novo vestibular, continuar me enganando.
                Fui livre para ir morar no exterior com minha família (nova esposa e novo filho), vender sanduíche natural, cabeludo,  num campo de baseball, ser gerente de uma loja de roupas, voltar para o Brasil, recolocar-me no mercado de trabalho, comprar carro, apartamento, fazer prestações.
                Mesmo assim, minha prisão sexual continuava. Eu seguia escravo das muitas mulheres que surgiam, da sedução, da conquista, da sensação de poder estar com muitas delas, muitas vezes. Tudo muito discreto. Bem, nem tão discreto assim. Eu enganava, mentia e me sentia livre para não praticar nenhum auto julgamento. Livre para enganar a mim mesmo de que eu estava sendo um bom marido, um bom companheiro, um amigo.
do blog blogdaaninha.arteblog.com.br
                Mesmo trabalhando muito, sentia-me livre para sonhar com novos empregos, com um novo futuro. E, melhor ainda, seguia livre para surfar. Todos os dias, por muitos anos, o nascer do sol me surpreendia já dentro d’água, sozinho, escuro ainda, surfando. Assim, diariamente eu chegava ao trabalho com um sorriso “abobalhado”, uma satisfação no olhar que perdurava, inclusive nas segundas-feiras. Meus colegas não entendiam, mas sentiam minha vibração, minha alegria.
                De tão feliz que eu andava, não sentia a gravidade de alguns dos meus atos. Talvez preso ao “êxtase-surfístico” não percebia que alguns acontecimentos ao meu redor exigiam atenção. Minhas duas famílias – Esposa e Filhos & Pai e Mãe – tinham sido relevados a segundo plano. Tinha brigas constantes com meus pais e prendia-me no ato de culpá-los. Para mim, eles tinham errado tanto comigo que agora eu era um produto dos seus atos. “Culpa deles”, pensava eu confortavelmente preso a essa idéia absurda. E continuava a ser o Senhor Revoltado Injustiçado. No casamento, minhas prisões eram minhas mentiras. Mentia tanto que acabava acreditando nas minhas histórias. Tudo estava bem, e eu era o marido ideal. O pai ideal. É... Prisões geralmente nos cegam.
do site recantodacronica.blogspot.com
                Após treze anos assim, um dia veio a conseqüência da minha liberdade pessoal: o divórcio. Mesmo com a dor de ver todos aqueles anos em que eu fora livre para viver com ela, num mundo só nosso, desaparecer, juntamente com meu filho, meus planos, meus bens e sonhos, veio-me uma nova liberdade, algo que eu nem sabia que ansiava: a liberdade da solidão!
                Nessa situação, os primeiros dias de liberdade são, na verdade, de libertinagem. Nossa: eu não sabia mais de quanta coisa eu era capaz! Sentia-me rejuvenescer a cada dia, mesmo acordando quase sempre cansado e de ressaca. Sentia-me bem. Vivia amplos relacionamentos, nenhum deles oficial. Pude ser sincero em meus desejos, ser livre para dizer a verdade – afinal, eu não precisava mais inventar desculpas para ninguém.
                A cada dia minha liberdade se ampliava. Eu podia deixar a prancha salgada e suja de areia em cima da cama, totalmente desarrumada, sem restrição alguma. E ao voltar para casa lá estava ela, do mesmo jeito que a deixara, juntamente com a bermuda, agora seca e dura, jogada no chão do quarto. As louças tinham seu lugar cativo na pia da cozinha, cuja torneira só funcionava a cada dois ou três dias, de acordo com a demanda do meu metabolismo. Quando nada mais estava disponível para o uso era hora de abrir uma(s) cerveja(s), pôr para tocar o velho e bom Rock’n Roll e encarar o desafio.
do site iplay.com.br
                Tinha a liberdade de poder escrever meu nome e desenhar com o dedo na poeira que se acumulava pelos cantos do meu “cafôfo”. Podia trazer meus filhos para ficarmos uns dias juntos e fazermos bagunças inconcebíveis para suas mães, sem censura nenhuma. Ali, no meu “castelo”, eu podia fumar o que quisesse, em qualquer um dos poucos cômodos que dispunha. Assistir televisão sem volume, ouvindo mais Rock’n Roll, sentado no “trono”. Sim, fazer cocô de porta aberta!!!
                Eu trazia quem eu quisesse, a qualquer hora, para fazer o que me desse na telha, pois ali era o meu espaço, minha liberdade! Muitas vezes passava o dia inteiro num final de semana surfando. Chegava em casa “morto” e, para aumentar minha satisfação, comprava algumas “Smirnoff Ices” e cervejas, e me dedicava à limpeza doméstica. Pelado, rodo, pano de chão e vassoura nas mãos, em danças loucas pela casa que, ao final, ficava irreconhecivelmente limpa. Engraçado: nunca me preocupei com o que os vizinhos ou minha “Senhoria” pensavam de mim...
do blog nudistasemcasa.blogspot.com
Então minha liberdade começou a tomar contornos interessantes. De tão feliz que me sentia, comecei a libertar-me dos meus fantasmas. Fui, sem saber, redescobrindo-me. Antigos grilhões aos quais eu me acorrentara, começaram a ceder. Culpas antigas iam esvaindo-se assim, como num passe de mágica.
do blog ilciluiza.blogspot.com
Tamanha era a leveza que me invadia, que passei a gostar do que via no espelho. Um sorriso cativante. Um brilho no olhar. Uma positividade absurdamente contagiante, tudo isso agora fazia parte de mim. Solidão, para mim, era definida como prêmio, não castigo. Gostava do que eu pensava quando estava sozinho, deitado na cama. Pelado, de novo...
do site imagensporfavor.com
Minha liberdade transformou-se em meu reencontro, e assim fui quebrando minhas próprias barreiras, meus tabus; fui conhecendo e vencendo meus medos, superando alguns limites. E pude, finalmente, olhar para trás e reconhecer meus erros sem dor ou culpa. Sem encará-los como erros propriamente ditos, mas como atitudes e decisões que tomei ao longo da vida e que resultaram em conseqüências nem sempre favoráveis. Olhar meus atos passados sem julgar-me, mas com sabedoria, de maneira imparcial. Analisa-los.

 Logo, as pessoas ao meu redor ganharam novos contornos. “Em verdade vos digo: Tudo o que vedes e sentes nos demais, não passa de um reflexo de como sois e do que sentes...”. Como eu já tinha a liberdade de perdoar-me, percebi que era perda de tempo acreditar que o mundo me devia desculpas. Desculpei-me com quem achei que devia fazê-lo. Em relação aos meus pais, reconheço que tive a sorte de libertar-me das muitas prisões que criei com eles, e que tanto me afastou deles.  Tive tempo hábil para isso, e assim o fiz, entre gestos e palavras. Hoje sinto que, novamente, os tenho como amigos. Como os Pais que eles sempre foram para mim.
do blog barbukowskieeu.blogspot.com


E foi assim que me apaixonei por mim mesmo. Sem narcisismos, mas com um amor verdadeiro. E as coisas foram se tornando muito mais interessantes. Eu finalmente tina a liberdade de poder amar de verdade. Amor, livre dos antigos conceitos que tinha sobre relacionamentos, fidelidade, sinceridade. E então, de uma forma totalmente inesperada, surgiu um novo amor na minha vida.
ieu de bigode... uma forma de conter o assédio sexual!!!
Esse amor, de tão forte, mudou completamente a minha vida, em todos os seus aspectos. Nova cidade, novos trabalhos, novos desafios, novas prioridades. E ganhei a liberdade de poder recomeçar minha vida ao lado de quem escolhi. Assim, do zero! Zero culpas, zero remorsos, zero mentiras...
Alguns anos após os quarenta. Se você ainda vive com quem você ama, por vontade própria, então você tem sorte. Se é assim, seu conceito de liberdade tornou-se bem amplo! Vivendo ao lado dela há quase cinco anos, hoje tenho a liberdade de poder vê-la todos os dias. Poder beijá-la, amá-la, abraça-la. Sou livre para planejar nossas próximas viagens juntos; livre para procurar um emprego melhor, um novo caminho profissional. Livre para poder buscar uma vida melhor com ela, para crescermos juntos, planejarmos nossa aposentadoria, nossa velhice juntos, de preferência em alguma praia – e eu ainda surfando!
Admito que nem tudo são flores. Algumas liberdades me são negadas hoje. Das coisas que eu gostaria de fazer, nem todas me são permitidas: não posso andar pelado pela casa, “flatulando” por onde eu queira; guardar pedaços de pizza debaixo da cama, nem deixar crescer meu temido bigode estilo mexicano (um dia consigo convencê-la das propriedades terapêuticas e sedutoras de um Bigodon...!!!). Mas, quer saber, isso não é nenhuma prisão. Liberdade mesmo, para mim, é conseguir viver de uma maneira que me faça feliz!


do site estadoanarquista.org
Hoje, além de ser feliz, tenho novas liberdades. Sou livre para continuar minha vida, identificando os problemas que aparecem, tentar resolve-los um a um; livre para procurar livrar-me das prisões que surgem, e que são inerentes a nós, e principalmente, sou livre para escrever o que eu quiser, sem temer o que as pessoas vão pensar - apenas escrever!
do site maxdiversao.com.br
 Por fim, se você teve a paciência – e a liberdade de ler até aqui, aconselho-o a tirar um tempinho para você e, sozinho, olhar para trás. Faça isso em um dia que você esteja de bom humor. Veja sua vida como se estivesse vendo a vida de outra pessoa. Ou um filme. Depois, olhe para o agora. Veja o que você está fazendo com você. Sinta como você é agora. O que pensa, o que deseja, o que faz, o que não faz. Por que não o faz. Quais são suas prisões. E tenha a liberdade de mudar o que sente que precisa ser mudado. E de continuar fazendo o que gosta.
Simplesmente, sinta-se livre. Seja livre. Vale à pena...