04/06/19
O tempo passa
muito rápido, infelizmente. Ainda mais após uma grande viagem onde se passou
meses planejando todos seus detalhes. Por mais que se viva intensamente cada
momento viajando, a hora de voltar acaba chegando. E cá estou eu, de volta à
casa, com aquele ranço característico dos que retornam do paraíso, após dias
tão inesquecivelmente gregos.
Num barco por Zakinthos... |
Não, este não é um roteiro de viagem contendo dicas precisas sobre onde ir, o que comer ou fazer. Muito menos um diário de viagem com informações registradas cronologicamente dos acontecidos e seus pormenores. Talvez tenha até um pouco de cada... De forma despretensiosa, resolvi escrever apenas observações sobre o que vi, vivi e principalmente senti, do pouco que conheci da Grécia. E como após alguns poucos dias de regresso, começo a embaralhar nomes e datas dos lugares visitados, melhor começar a redigir logo, antes que o “embaralhamento” cerebral domine minhas lembranças...
De 17 a 29 de
maio saímos de Curitiba e cruzamos estados, países, Atlântico sul e norte,
entre sofríveis voos, aeroportos e alfandegas. Nos aviões da Allitalia,
somavam-se a boa comida aos bons vinhos, mas subtraía-se conforto e atendimento
– tripulação italiana carregando sua típica grosseria no trato com os
passageiros. Nos aeroportos, a pressa, os controles de imigração, os raios-x e
a falta de informações eram sempre presentes. Mas para mim, em nenhum momento,
nada disso ofuscou a alegria da certeza da glória final: Grécia!!
Foram 2 dias
em Atenas, 3 em Santorini, 3 em Mykonos e 3 em Zakynthos (nessa ordem), para
depois regressarmos a Atenas no dia da partida. Entre casas alugadas, hotéis,
mais aviões (grandes e pequenos), Ferrys e carros alugados, sobrevivemos – e muito
bem! Saímos em 3 pessoas do Brasil para, em Atenas, encontrarmos com mais 5
vindo dos EUA (2 da Califórnia e 3 de Connecticut), todos num grau que oscila
entre parentes e muito bons amigos.
... nada como congelar nas águas do mar Jônico... Zakynthos |
Em Atenas,
apartamentos alugados perto da Acrópole. Isso nos poupou de dirigirmos - caminhar
por ali foi fácil com o Google. Parte do centro de Atenas lembra a caótica
simetria porto-alegrense, seus prédios e ruas esquisitamente dispostas. Compramos
nossos tickets para visitarmos Acrópole, Partenon & Cia, e no caminho fui o
único a conseguir evitar que os gigantescos africanos e alegres que fazem ponto
nas redondezas me “presenteassem” com suas pulseirinhas coloridas abençoadas em
troca de alguns Euros.
quando Atenas lembra Porto Alegre... |
Vimos muita história, pisamos em milhares de pedras,
driblamos inúmeros turistas (isso que fomos cedo, perto das 8 da manhã). Entre
um local e outro a ser visitado, comi Gyrus (se diz Hyrus) de porco, bebi
algumas cervejas e logo fiquei fã da Alfa (a Strong, 7% alc. vol. ).
Alfa... a Bira!!!! |
Na saída
de uma dessas visitas históricas demos de cara com uma feira ao ar livre. Diversas
curiosidades, artesanatos e antiguidades à venda. Diversas pessoas, diversas
flores e cheiros numa profusão de vida a todo instante. Muitas caminhadas,
sempre grato pelos tênis confortáveis.
pelas ruas de Atenas... |
Como toda
grande cidade turística, Atenas é uma Babel. Caoticamente entupida de gente de
todas as partes do mundo. Prestando atenção ao redor, a mistura das mais
variadas e estranhas línguas ecoa ao redor como música inteligível. Gostava de,
às vezes, tentar prestar atenção aos diferentes sotaques e palavras que não
entendia. Belas lojinhas, ruas cinematográficas, mais comida, mais cerveja, e a
preciosa dica do amigo Aldo – ir ao bairro de Plaka, um ligar muito bonito,
perto da Acrópole, com partes que lembram as charmosas ruas da minha amada
Pipa/RN, só que grega. Lindas ruas, lojas e restaurantes, cafés.
Santorini. Ficamos
em um hotel excelente – Aplai Dome. Excelente café da manhã, quartos bem
confortáveis, visual lindo, atendimento
impecável, funcionários do hotel, além de prestativos, verdadeiramente simpáticos.
Localização estratégica, bem perto da famosa Oia (se diz ia).
Em Santorini
há dois lugares que precisam ser visitados: Oia e Thira (se diz Fira). Esta última
é a capital da ilha, tem um belíssimo visual, do alto, onde você vê o mar com
alguns navios de cruzeiro zanzando.
Aqui há bastante lojinhas e ótimos restaurantes, tudo em ruelas dispostas em forma de labirintos. Para chegar à Thira há um trânsito caótico e um estacionamento público (gratuito) que dá medo deixar o carro parado, pois cada um estaciona onde e como bem entende. Nada demais, basta ter paciência.
Aqui há bastante lojinhas e ótimos restaurantes, tudo em ruelas dispostas em forma de labirintos. Para chegar à Thira há um trânsito caótico e um estacionamento público (gratuito) que dá medo deixar o carro parado, pois cada um estaciona onde e como bem entende. Nada demais, basta ter paciência.
Santorini e seu cartão postal... |
Particularmente
preferi Oia. Ali as ruas também são estreitas, mas não são claustrofóbicas –
tudo do alto da montanha pedregosa e a céu aberto. É aqui que você vai
fotografar a famosa igrejinha branca de teto azul arredondado com o mar ao
fundo, adornada por casinhas brancas cuja arquitetura lembra os Flintstones.
Esse lugar é tão fotogênico que aposto que clicar em qualquer direção produzirá
fotos fantásticas.
E os pontos para as fotos mais clássicas estão devidamente demarcados por turistas (geralmente asiáticos) com suas máquinas fotográficas e celulares em punho, quase sempre em poses clássicas. Pelas pitorescas ruas de Oia eu era um contraste com as centenas de pessoas desfilando suas roupas gregas esvoaçantes e alguns chapéus voadores – venta muito nas ilhas gregas...
E os pontos para as fotos mais clássicas estão devidamente demarcados por turistas (geralmente asiáticos) com suas máquinas fotográficas e celulares em punho, quase sempre em poses clássicas. Pelas pitorescas ruas de Oia eu era um contraste com as centenas de pessoas desfilando suas roupas gregas esvoaçantes e alguns chapéus voadores – venta muito nas ilhas gregas...
Mais uma cerveja "honesta" grega... |
Fizemos também
um passeio de barco. Barco só nosso, com direito a almoço preparado na hora,
vinhos, águas, refrigerantes e, claro, cervejas! Vimos muitas praias e baías
lindas, águas num tom de azul escuro indescritíveis, emoldurando ilhotas
rochosas. Passamos perto de um vulcão. Ouvimos histórias contadas pelos 3
tripulantes do barco sobre algumas ilhas e vilas dali, umas sem qualquer
infraestrutura, outras com 2 ou 3 casas apenas.
Frio no mar Egeu... valeu à pena!!! |
Pulei no mar. Quase congelei,
mas pulei mesmo assim. Nadei, mergulhei, boiei no mar Egeu. Recomendo uma roupa
de borracha, mas eu, troglodita como sou, mesmo a despeito das muitas recomendações,
entrei só de shorts mesmo. Frio, o dia nublado ventava muito, mas as cervejas e
os vinhos, aliados à toalha, foram fundamentais para a minha sobrevivência.
almoço no barco... e eu destoando das roupas gregas... |
Seja educado e
vá além do inglês. Guarde algumas palavras em grego. Embora todos consigam te
atender em inglês, vale à pena saber algumas palavras no idioma deles. Vou escrever
a seguir algumas exatamente como se pronunciam e seus significados a seguir:
IASSAS (Olá/Oi); KALIMERA (Bom dia); KALISPERA (Boa tarde/Boa noite); KALINISHTA
(ao se despedir de alguém, à noite); EFKARISTÔ (Obrigado), e quando você
agradece em grego, receberá um dos mais sinceros sorrisos que já viu,
acompanhado de um PARAKALÔ ( De nada). Nessa hora, alguns ficam tão emocionados
que podem até querer saber como se agradece em português.
Simpatia genuína mesmo. E não esqueça que BIRA é cerveja. Falando nisso, prove o Ouzo (se diz UZO), que é o Arak ou Aniz. Com gelo é muito bom. E como falei em cerveja, em Santorini elegi a melhor Bira que tomei na Grécia: Red Donkey. Tem de várias cores, mas a Red é a mais forte. Vale o preço!
Simpatia genuína mesmo. E não esqueça que BIRA é cerveja. Falando nisso, prove o Ouzo (se diz UZO), que é o Arak ou Aniz. Com gelo é muito bom. E como falei em cerveja, em Santorini elegi a melhor Bira que tomei na Grécia: Red Donkey. Tem de várias cores, mas a Red é a mais forte. Vale o preço!
cerveja artesanal de Santorini... pra mim, a melhor... |
Mykonos –
fomos num Ferry gigantesco, cheio de gente e restaurante à bordo. Saindo de
Santorini, Mykonos é a segunda parada. Umas duas horas mais ou menos navegando.
Tivemos sorte do mar estar calmo, pois há relatos de balanços, vômitos e enjoos
assustadores. Se você levar muitas malas consigo, faça como nós, tenha uma
daquelas correntes/cadeados de bicicleta para prendê-las juntas, pois elas vão
em num compartimento separado – melhor prevenir.
Little Venice, moinhos de vento, pôr-do-sol |
Mykonos também
é linda, uma cidade “gregamente” planejada. Little Venice, os moinhos de vento,
lugar para um pôr-do-sol inesquecível. Para se chegar às famosas e típicas
ruazinhas estreitas, paramos o carro num estacionamento em uma rua acima (pago)
e haja pernas.
visual do pôr-do-sol dos moinhos de vento |
Descida. As ruazinhas são mais fechadas que as de Santorini. São
lindas. São labirintos pré-fabricados, pinturas brancas ao redor das pedras –
pura estética mesmo. Por entre as lojinhas brotam restaurantes, cafés, “bakerys”
que faziam a gente parar e comer. E come-se bem por lá. Tanto em qualidade como
em quantidade.
Do momento em
que chegamos no porto até nossa casa, percorremos de caro ruas muito estreitas,
circundadas por muretas de pedra, tendo ao fundo uma natureza típica de clima
seco, embora com muitas plantas e principalmente pedras. Muitas pedras. Beleza totalmente
diferente das que eu conhecia. Nas estradas, cuidado. Quando vinha algum
veículo na direção contrária, apreensão total. Até hoje não sei como conseguíamos
passar. Mistérios gregos...
Xigia, Zakynthos |
As praias dessa
ilha dividem-se em super badaladas, desertas ou algumas intermediárias. Em algumas
como Paradise e Super Paradise beach, prepare-se para deixar as calças – além de
cobrarem uma fortuna por uma espreguiçadeira, sim, você pode ficar pelado
tranquilamente.
Não, não o fizemos! As praias que visitamos não tinham areia, então não parecia ser uma boa ideia esticarmos as toalhas e deitarmos nas pedras. Escolhemos Platys Gialos e lá nos aboletamos em espreguiçadeiras com guarda-sóis para passarmos boa parte do dia. Sol, água linda (e gelada), petiscos, drinks e cerveja gelada (na verdade, chopp Alfa, muito bom). E um garçom contador de histórias que falava razoavelmente bem o português.
Não, não o fizemos! As praias que visitamos não tinham areia, então não parecia ser uma boa ideia esticarmos as toalhas e deitarmos nas pedras. Escolhemos Platys Gialos e lá nos aboletamos em espreguiçadeiras com guarda-sóis para passarmos boa parte do dia. Sol, água linda (e gelada), petiscos, drinks e cerveja gelada (na verdade, chopp Alfa, muito bom). E um garçom contador de histórias que falava razoavelmente bem o português.
Zakynthos. Partindo
da Mykonos tivemos que voltar à Atenas para, num “mini-avião”, voarmos até
nosso destino. Mar Jônico. Mais ou menos uma hora de viagem. Esta é a maior
ilha das que visitamos. E por sua localização, o clima do norte europeu se faz
presente, alterando por sua vez a paisagem. Aqui o verde se faz muito mais presente
– mais verde do que pedras. Mais natureza. Mais arquitetura real, diferente das
arredondadas e branquinhas construções das ilhas anteriores. Muitas casas
feitas de pedra, incluindo-se a que ficamos, numa praia chamada Xigia
(pronuncia-se Qsiguia). Xigia beach houses.
A ilha é menos turística que as anteriores: mais pessoas e famílias, menos profissionais de turismo; mais sorrisos sinceros e abraços; centrinho mais real, casas mais reais, pessoas mais atenciosas... Adivinhem qual das ilhas eu mais gostei...
..."A" casa, Xigia beach House |
... a casa, por dentro... |
A ilha é menos turística que as anteriores: mais pessoas e famílias, menos profissionais de turismo; mais sorrisos sinceros e abraços; centrinho mais real, casas mais reais, pessoas mais atenciosas... Adivinhem qual das ilhas eu mais gostei...
Estradas serpenteando
o mato verde, quase sempre crivado de oliveiras. Alguns carros velhos parados,
pessoas idem, cabras, bodes, pássaros e muitos, muitos gatos por toda a ilha. Museu
da Azeitona (Fábrica de Azeites de Oliva), com degustação de azeites &
azeitonas, além de venda. Restaurantes diversos no centrinho, alguns
turísticos, alguns tradicionais. Numa praia, em Agios Nikolaos, restaurante
Nobelos – lugar para se sentir bem, comer bem, ser estupidamente bem atendido e
se possível passar o dia, pois eles tem estrutura de restaurante e de praia. Até
hotel eles tem. Fantástico!
A famosa
Navagio Beach foi devidamente vista de cima (com fotos registradas) e depois
visitada da única forma possível: de barco. Mais uma vez, barco só nosso, com
cerveja e demais líquidos inclusos, além de lanche e salada de frutas. Visitamos
também as famosas blue caves também. Também entrei no mar diversas vezes. Também
congelei, nadei, boiei, pensei, relaxei... Também valeu muito à pena!
Nadei sozinho da lancha até Navagio Beach. Andei pisando nas pedras ao redor do grande navio enferrujado naufragado. Imenso monstro marrom esquartejado. Na volta, trouxe no bolso do short duas pedrinhas para minha mãe. Agora essas pedras irão morar no Brasil...
Navagio visto de cima... |
Nadei sozinho da lancha até Navagio Beach. Andei pisando nas pedras ao redor do grande navio enferrujado naufragado. Imenso monstro marrom esquartejado. Na volta, trouxe no bolso do short duas pedrinhas para minha mãe. Agora essas pedras irão morar no Brasil...
Então pelas
muitas estradas, num dia chuvoso em Zakynthos , enquanto a paisagem desfilava
diante de mim, eu absorvi a Grécia. O ar, o clima, as pedras, as oliveiras, as
casas, os moinhos, tudo isso eu absorvi. Trouxe a Grécia para dentro do meu
ser. Tanto que posso sentí-la agora, no exato momento em que fecho os olhos. Tão
real quanto o gosto do café grego – forte, estilo café árabe, preparado por
decantação...
eu, ateu, acendendo vela na igreja grega |
Numa das
tardes, nas águas geladas e lindas de Xigia, no meio daquele azul-claro de
origem provavelmente calcaria, consegui boiar (bendita salinidade grega). Os barulhos
externos deram lugar ao silêncio, quebrado aqui e ali pelos ruídos das pedras
acomodando-se no fundo do mar ao sabor do movimento da maré. Lá estava eu,
envolto pelo mar Jônico, gelado, relaxando, olhando para o céu, as escarpas
pedregosas ao meu redor, as pouquíssimas e apressadas nuvens no céu.
Podia sentir a viscosidade da água entre cada um dos meus dedos das mãos, como se fosse sólida. Meus pensamentos se foram por completo naquele momento. Eu não pensava em nada, eu nada era, eu só sentia. Só respirava. Só estava lá. Eu não só absorvia a Grécia – eu era tudo aquilo. Fácil flutuar ali; fácil esquecer de tudo o que não fosse aquele azul daquele mundo. Fácil se perder em si mesmo, de si mesmo. Fácil concluir que, mesmo que a Grécia nunca tenha sido meu destino dos sonhos, a partir daquele momento ela será uma de minhas melhores lembranças, nos meus melhores sonhos.
Podia sentir a viscosidade da água entre cada um dos meus dedos das mãos, como se fosse sólida. Meus pensamentos se foram por completo naquele momento. Eu não pensava em nada, eu nada era, eu só sentia. Só respirava. Só estava lá. Eu não só absorvia a Grécia – eu era tudo aquilo. Fácil flutuar ali; fácil esquecer de tudo o que não fosse aquele azul daquele mundo. Fácil se perder em si mesmo, de si mesmo. Fácil concluir que, mesmo que a Grécia nunca tenha sido meu destino dos sonhos, a partir daquele momento ela será uma de minhas melhores lembranças, nos meus melhores sonhos.
Obrigado Grécia.
Hoje eu vivo um pouco aí, do mesmo jeito que vives um pouco em mim.
... simples assim... |