...por anos era assim que eu acordava: 04 da manhã, lá estava "ieu" vivendo na minha velha e boa Ponta Negra (Natal/RN)!!

terça-feira, 31 de maio de 2011

SURF

.. do site ynner.com.br

SURFAR

Talvez você tenha reparado que em tudo o que escrevo, quase sempre encontro uma brecha para citar o surf. Se foi meu aluno ou conhece alguém que sobreviveu às minhas aulas, sabe que o mesmo acontece lá. Tendo trabalhado, estudado ou simplesmente convivido comigo, não é novidade para você que eu surfo. E, caso não me conheça, basta ver a foto no meu perfil deste Blog ou no meu Orkut para ter certeza de que sim, eu surfo!
... sim, sou eu surfando. Já viu esta foto? Claro, no começo deste blog.


O SURF

O surf entrou em minha vida no começo dos meus 16 anos, meio sem querer. Quase que a contragosto. Mas, desde que tive meu primeiro contato com uma prancha, houve em mim algo meio místico, que se tornou como um vício, parte de mim. Após meu primeiro contato aconteceu uma "cousa" mágica que se transformou num vício, parte de mim. E desde então, nunca mais parei. Mesmo agora, morando longe do mar, minha cabeça segue lá, indo e vindo com as marés. O surf simplesmente está em mim pois ainda hoje, aos 43 anos, continuo com aquela “doença surfística” que me faz ver ondas nas formas mais insólitas e imperceptíveis aos demais mortais.
... do site bate-volta.com
             Como quando a ponta do tapete fica dobrada assim, em curva: vejo uma onda tubular perfeita, daquelas que quebram sobre uma bancada de coral, bem cavada! Ou quando o ônibus em que viajo, geralmente em pé (questão de educação, baby!) passa por baixo de um viaduto mais extenso, bem, deve ser engraçado aos olhos dos demais passageiros: flexiono os joelhos abaixando-me levemente e mantenho o equilíbrio, braço estendido assim. Estou dentro de um tubãããoo...!!!

... até o céu àsvezes me chama para o surf. Do site bocaberta.org
             Ou então em meu novo brinquedo que me foi gentilmente presenteado pelo meu irmão Francisco “Bebo”: o Skate Longboard! Muitos dos movimentos e a própria postura do surf são reproduzidos nele. É como surfar num pranchão, sem praia. Valeu Brow!!!

... surfando sem praia. E a Luna segue dormindo...
 
POR QUE FALAR DO SURF?

Bem, se você pensa que gosto de alardear aos quatro cantos que sou surfista para que as pessoas me admirem (vulgo para me mostrar), então lamento decepcioná-lo. Você está redondamente enganado.
Desde quando comecei a surfar tenho vivido situações únicas e especiais, momentos simplesmente mágicos, todos graças ao surf. E se estou sempre mencionando-o, um dos motivos é o de querer dividir tais alegrias com as demais pessoas. Compartilhar com todos esses momentos sublimes que só os surfistas conhecem. Afinal, embora eu seja extremamente egoísta com minha prancha, no geral acredito que as “cousas” boas, como felicidade, devem ser disseminadas. Tentar contagiar os outros com bons sentimentos. Penso: as pessoas têm uma tendência natural a admirarem desgraças em geral. Repare no congestionamento de curiosos próximo a um acidente de trânsito. Ou então no índice de popularidade desses programas sensacionalistas que invadem a TV com violência em excesso. Tragédias e desgraças sempre estão em destaque, como se precisássemos disso para viver. Então, que tal revertermos isto? Espalhar alegria talvez seja um importante passo para conseguirmos um mundo melhor. Fazer o que se eu sou um cara legal?
... paz...Do blog tacmgtacomdeus.blogspot.com
 Outro motivo – não menos importante - de eu gritar aos quatro cantos que sou surfista é o de quebrar tabus. Em pleno século XXI há muitas pessoas que AINDA têm aquela visão estúpida de que todo surfista é um maconheiro-vagabundo. Um ser bitolado, alheio ao mundo, que traz consigo sempre um semblante estúpido estampado no rosto. "Aêêêê...”, “O cara está sempre assim, viajandão. Não fala coisa com coisa, não leva nada a sério!”.  Entendo o porquê das pessoas pensarem isso. Elas estão tão perdidas em suas “vidinhas” regidas por regras tão mecanicamente estressantes que não conseguem aceitar a nossa alegria, a nossa paz. Elas não entendem a satisfação em nossos olhares após um bom dia de surf.
Então, lá estão meus alunos, tentando decifrar os caprichos do computador sob minha orientação. Bits & Bytes, formatação, tabulação, fórmulas, tabelas dinâmicas – naquele momento eles me vêem como o professor: um homem inteligente. Muitos admiram minhas aulas, minha didática e a facilidade com que tenho para transmitir meus conhecimentos. Geralmente procuro valer-me de analogias entre o mundo virtual e o real para garantir melhor uma compreensão por parte dos alunos. E ainda, mais que o conteúdo pré-estabelecido, gosto de abordar - através de histórias pessoais e até piadas - assuntos diversos e atuais, para discutirmos mesmo, pois pensar sempre é bom.

... eu, ainda com cabelos, por volta de 1992, Professurf!!!
  E aí, surpresa: o tal inteligente professor é surfista! Então, por dedução, nem todo o surfista é burro. Rompendo tal conceito, ajudo a desmistificar e desmarginalizar o surf, destruindo a idéia pré-concebida que as pessoas têm em relação a nós surfistas. E, se possível, ainda incentivo alguns a surfarem, pois assim descobrirão que o surf é muito mais que um esporte: é um modo de pensar. È um estilo de vida. E bem peculiar...

BENEFÍCIOS DO SURF
 
Digo aqui que o surf tem me dado uma ótima saúde e preparo físico, apesar de tantos cigarros e bebidas que se armazenaram em meu corpo ao longo desses anos. Além dos benefícios físicos há os mentais. Sim, o surf me fez ver as “cousas” de outra maneira. Surfando aprendi a ter mais confiança em mim mesmo e no mundo ao meu redor. A paz que sinto, resultante de mais da metade da minha vida surfando, me faz, por conseqüência, viver mais harmoniosamente com os demais. Hoje estou certo que a vida é como o mar pois está num equilíbrio perfeito. Nao importa como está meu dia hoje, ele está do jeito que deve estar agora. E se hoje não deu onda, melhor nadar, mergulhar, aproveitar este momento aqui, pois com certeza as ondas virão. Com certeza!
... do blog readsurfing.blogspot.com
 
Por último, o hábito de surfar sintonizou-me com minha intuição. Sentir, saber o momento e o lugar certo para poder pegar as melhores ondas, que lado ir, qual manobra fazer e em que parte da onda, com que força: ler a onda, senti-la. Tente aplicar isto no seu dia a dia...

COMO TUDO COMEÇOU

            Boa parte da minha vida morei em cidades praianas, graças ao “vechio”, que como eu, possui guelras e escamas. Eram tantas horas de praia que, para mim CALADRYL tem um cheirinho gostoso de infância. 

... viva a infância!!!

Até adolescer eu nunca tinha surfado, a não ser de jacaré. E estava a aprendendo a praticar Windsurf. Como muitos “babacas” daquela época, pensava que todo surfista era um “cabeça-de-vento”. Via alguns tipos com seus cabelos parafinados, rindo o tempo todo e os achava ridículos. Também me parecia besta a idéia de deitar numa prancha, remar até o fundo tendo que transpor as ondas e ficar lá sentado um tempão esperando o momento certo para poder me divertir. Aí, ficar só alguns poucos minutos em pé até tudo acabar, para então ter que recomeçar tudo outra vez.
E foi com esta “tacanha” mentalidade que em 1984, meados de janeiro, decidi experimentar o surf. Na Praia Grande, São Francisco do Sul/SC. Insistência de um amigo mais velho, o Rogério, já na época surfista experiente. Este cara foi meu “tutor” e vive lá até hoje, tocando uma petiscaria e pousada (Avenida Atlântica-Enseada São Francisco do Sul/SC, Fone 47 - 3449-0295). Vale à pena conferir...
... Praia Grande, São Chico, aaaaaltas ondas!!! Do site wannasurf.com
 E lá fomos nós, eu e meu irmão mais velho, marinheiros, digo, surfistas de primeira viagem. As ondas estavam fortes naquele dia e descobri, a duras penas, que era mais fácil ver alguém deitado remando em sua prancha do que fazê-lo. Cheguei a pensar que a “minha” estivesse estragada, pois ela não parava de dançar sob meu corpo. Demorou uma eternidade para eu remar até o fundo (outside) e passar a arrebentação. Lá chegando, missão impossível: sentar-me na prancha. Parecia que eu estava em um rodeio a montar uma égua brava. A prancha simplesmente não ficava parada: ora afundava o bico levando-me para baixo, de ponta cabeça mesmo, ora disparava do meio de minhas pernas tal qual um foguete, voando rápida e ameaçando decepar quem estivesse em seu caminho. Era muito difícil. E muito engraçado também. Lembro da dor nas bochechas de tanto que ri. Todos nós ríamos sem parar, de tudo.Tentar pegar uma onda então era algo quase impensável. Quase, pois recordo a primeira que desci, deitado mesmo. Não conseguirei, por mais que tente, descrever tal sensação, mas guardo-a comigo até hoje. Só digo que o que senti impulsionou-me a voltar, tudo de novo, pois eu precisava mais daquilo. E assim foi, e todas as tentativas de ficar em pé até então eram um fiasco. Mas, um fiasco gostoso!
... siniistro!!! Do site esporte.uol.com.br
E, fiquei em pé! Minha primeira “surfada” de verdade não deve ter durado mais que 10 segundos. O mundo se movia ali, sob meus pés, e eu sentia toda a força da água debaixo da prancha. E a “manobra” saiu assim, automaticamente instintiva: primeiro um “Reto-side”, seguindo a espuma, reto, em direção à praia, e depois um belo de um “Imbick-back”, a prancha embicou e caí de cara na água, bochechas explodindo de dor e sorriso aberto, engolindo todo o oceano. Isto bastou: ali, definitivamente eu fui mordido pelo "bicho-do-surf", uma febre que, mesmo após 27 anos, não passou. E, espero, nunca passará.


COUSAS DO SURF

... do site ivebeenthere.co.uk
             Em todos esses anos de surf tive muitas pranchas, tantas que não consigo precisar quantas foram. Mesmo assim, lembro direitinho dos detalhes de muitas delas e de quais foram as melhores. Já surfei em tantas praias que também já perdi esta conta. Mas, cada vez que escuto seus nomes ou vejo fotos delas, lembro dos muitos bons momentos que passei em cada uma delas. Simplesmente inesquecíveis. Também tive muitos, muitos amigos e amigas de surf. Pessoas que comigo compartilharam tantos momentos, digamos, inenarráveis. Alguns desses amigos eu nunca soube seus nomes, nem o que faziam além de surfarem. Outros sequer falavam o mesmo idioma que eu. Também há os que a amizade ultrapassou a linha do surf, e conviveram comigo em diversas outras situações. Mas, todos eles tiveram algo em comum: nos momentos em que dividíamos as ondas, havia entre nós a mesma sintonia e boas vibrações. Camaradagem mesmo, daquelas que se sente com pessoas especiais. É, o surf tem dessas “cousas”...
... nossos melhores amigos também surfam. Do site archive.constantcontact.com
             Sei de muitas pessoas que fizeram do surf simplesmente seu ganha-pão. Profissão mesmo, alguns inclusive com salários bem mais polpudos que muitos doutores diplomados. Uns são pagos para participarem de campeonatos e, seja no Brasil ou no exterior, eles têm a obrigação de obterem boas colocações nestes eventos. Outros recebem seus rendimentos por viajarem pelo mundo em atrás de ondas perfeitas. Sua missão é aparecer no maior número de fotos possível, pois assim seus patrocinadores terão retorno garantido. Em ambos os casos, sua postura fora da água também lhe é cobrada. Envolvimento com drogas, brigas ou quaisquer atividades digamos, ilícitas, podem custar seus empregos. Empregos estes que dispensam gravatas e sapatos, cujos escritórios são ao ar livre, tendo como mesa de trabalho as pranchas. E suas rotinas, surfar e surfar cada vez mais. Vidão!!!!

... sem cometários. Do blog surfpe.blogspot.com
 
MAIS DO SURF

            Particularmente, admiro muito quem optou em viver assim, mas, para mim, tenho o surf como uma válvula de escape.  Algo que representa para mim uma “NÃO-OBRIGAÇÃO”. Em alguns momentos o surf pode ser a minha fuga da realidade, fugir de alguma situação ruim que eu esteja vivendo. Em outros, ele é a minha realidade, minha cetreza, existência, meu lugar preferido em meio este mundo tão incoerente em que vivemos. Pois quando estou surfando, simplesmente me desconecto de tudo isto aqui e entro em sintonia com outro mundo. Um mundo que flui de outra maneira.
... cousas do surf. Do site minilua.com
             Ali, surfando, estou no mar, água em constante movimento, conseqüência de uma energia muito forte que gera as ondas. As ondas “surfáveis” geralmente são formadas por grandes tempestades que ocorrem no meio dos oceanos e que, dependendo de sua intensidade e direção, formam ondulações que viajam por milhres de quilômetros, ultrapassando qualquer barreira política ou geográfica imposta pelo homem.
... clique para aumentar e entender melhor. Do site floripasurfclub.com.br
 
            Quando estas ondulações (SWELLS) se aproximam das praias elas s deparam com a diminuição da profundidade. Assim as ondas vão ganhando forma e tamanho, de acordo com o tipo de fundo daquela praia, dentre outros fatores. E eu, ganhando prazer! Prazer não em domá-la,s mas em “fazer” a onda de acordo com o que ela pede. Em surfa-la.
.. assim elas começam. Do site biosleep.com.br
              Lembro quando eu tinha o hábito de esperar o sol nascer já dentro d’água, todos os dias, surfando. Aquelas duas horinhas de surf matinal me faziam chegar ao trabalho “assim”, sorrisão aberto de uma orelha a outra. Os demais mortais, colegas de trabalho, não compreendiam tal felicidade em plena segunda-feira de manhã. Nem na terça, quarta, quinta ou sexta-feira. Alguns deviam simplesmente me achar um sujeito meio “abobalhado”. Sei de outros também que confabulavam entre si (FOFOCAVAM) que tudo era culpa da "Cannabis”, pois nunca que meus olhos vermelhos assim poderiam ser só da água salgada. Muito menos aquele constante alto astral e despreocupação...

... momentos mágicos. Do site colinrdelaney.wordpress.com
HISTÓRIAS PESSOAIS - CRONOLOGIA

            Cronologicamente falando, nos três anos que morei em Joinville, o surf resumia-se aos verões e às estadas solitárias durante o inverno em nossa casa de praia. É justamente nesta época que as ondas aparecem maiores, mais fortes, perfeitas. E geladas também. Naquela época não havia roupa de neoprene. Água gelada+Inverno em Santa Catarina = Hipotermia que te deixa com a pele de galinha!!!”.


... em Natal. Concentração total...
            Ao completar dezoito fomos todos morar em Natal/RN e veja só, na praia de Ponta Negra. Incontáveis sessões diárias de surf, atrapalhadas por algumas esporádicas idas à Universidade. Foram oito anos entre casamentos, filhos, divórcios, “re-casamentos”, e o surf ainda comigo. Durante este período vaguei por diversas praias da região, muitas vezes dormindo em barracas ou até mesmo na capa da prancha. Lembro da hoje famosa praia de Pipa, na época reduto de surfistas e outros malucos, quando dormíamos acampados em frente ao “pico”, debaixo de um grande abacateiro. Eram dias inteiros de surf e noites de muitas fogueiras e interação com os nativos e malucos em geral.
.. perfeição em Pipa/RN. Do site waves.terra.com.br
             Após esse tempo fui morar na Venezuela, onde nos dois anos seguintes tive grandes lições de vida mas pouco de surf. Pouquíssimas caídas, e em dias de poucas ondas. Mesmo assim, mar do Caribe, água quente e transparente, pelicanos voando bem pertinho e muita, muita natureza. Era muito estranho ficar tão longe do surf, que às vezes eu surfava numa tábua apoiada em um tronco bem grande caído no chão. Ajudava a manter o equilíbrio do surf – e a fazer com que “mis vecinos” cada vez mais desconfiassem da minha sanidade.
.. do site solostocks.com.br
            Voltando ao Brasil, vinte quilos mais magro e sem prancha, minha mãe, talvez espantada com a mudança. Levou-me a uma “Surf shop” e lá falou: “Filho, escolha uma destas pranchas para você”.Novinha em folha! Nossa, ela é a melhor mãe que eu tenho!E nos dez anos seguintes, descontei todo aquele atraso surfístico: madrugadas, tardes, entardeceres, até em noites de lua cheia eu surfei! Uma década de muito surf!
     
... Ilha do Mel, Pousada Grajagan, na cara do gol...
     
             Há cinco anos em Curitiba, a freqüência do meu surf caiu vertiginosamente. Mesmo assim, quando posso, vou a lugares como a Ilha do mel e algumas praias de Santa Catarina – um dos “Templos Sagrados” do surf brasileiro. E, sim, falei com o Rogério...

O MUNDO QUE GIRA EM TORNO DO SURF

            Não conseguiria hoje contabilizar o quanto já investi no surf. Viagens, bermudas, camisetas de lycra, roupas de neoprene, parafinas, capas de prancha, leashes, roupas de "surfwear" e, claro, pranchas. Fora as revistas. Alias, estas são tantas que, mesmo depois de recomeças a colecioná-las pela terceira ou quarta vez a quantidade de exemplares que possuo extrapolou o espaço físico que as tinha dedicado – elas simplesmente não cabem mais ali. Isto vai gerar uma guerra lá em casa, pois terei que conquistar novos territórios.


... do site boston.com
             Falando em revistas, ao contrário do que se possa pensar elas apresentam muito mais do que belíssimas fotos. Ali há matérias sobre viagens, competição, meio ambiente, dicas e histórias, daquelas que nos fazem pensar sobre tudo, além de outros assuntos. Lembro que, nos primórdios do surf, as primeiras revistas eram um festival de fotos e bundas. Sim, era muito bom, mas já naquela época faltava algo. Não sei se pelo motivo de envelhecermos juntos, a qualidade editorial destas melhorou, e muito. Falo aqui em conteúdo.
Quer conhecer algumas? Então prepare-se:  FLUIR (http://www.fluir.com.br/), HARDCORE (http://www.hardcore.com.br/), ALMASURF(http://www.almasurf.com/), ONDA (http://www.ondamagazine.com/), ONFIRE (http://www.onfiresurfmag.com/), esta última portuguesa e, como as demais, de ótima qualidade.  Cada vez mais estas publicações investem em excelentes escritores, todos eles com água salgada nas veias, como Fred D'orey, Júlio Adler, Otaviano “Taiu” Bueno, Ricardo “Bocão”, Steven Alain, Túlio Brandão, Alex Guaraná, Edinho Leite e muitos, muitos outros.


... isto é o que chamamos de levar uma vaca. Do site foxsports.com.au
Há também inúmeros sites onde você pode saber sobre o mundo do surf em geral, como previsões de ondas em quase todo o mundo e tudo sobre o universo do surf. Se você ainda não conhece, acesse algum como o http://www.waves.com.br/ e navegue sem medo. Conheça os links para histórias, fotos e matérias em geral. Você não vai se decepcionar.

            ISTO É O SURF, BROW...

Isso, meus camaradas, é um pouco do que lhes ofereço sobre o mundo do surf. Quer saber o que mais se pode viver surfando? Então leia algumas “cousas” que já vivi graças ao surf.


... essa eu gosot! Do site atitude-surf.com
            Ensinei meus três filhos a surfarem quando eles davam ainda seus primeiros passos. Dois deles, coincidentemente os tatuados, ainda surfam. Meus enteados(as), também ensinei, assim como muitos amigos(as) e filhos(as) de amigos(as).


... levando o enteado-amigo Gabriel para o bom caminho.
          Tive o prazer de dividir a mesma onda com meus herdeiros. E com meu “pai-peixe” também, que muitas vezes ficava lá no fundo comigo nadando por ali.


... família surf e um amigo junto. Yeah, parece que foi ontem.
            Surfei com gente famosa e com desconhecidos: homens, mulheres, ricos e pobres. Já me assustei com tartarugas marinhas e peixe-boi ao meu lado. Toquei golfinhos que nadavam ao meu redor. Gelei de medo com o tamanho da baleia que pulou ao meu lado.
            Peguei onda em saídas de esgoto por onde boiavam os temidos “cocozes humannus”. Pulei das pedras, tendo que esperar a hora certa, quando vinha a onda para me levar para o fundo – não dava pra pensar em errar o momento. Surfei ondas que passavam por baixo de um trapiche (um tipo de ponte para barcos), e foi alucinante!

... nem minha enteadamiga Yasmin escapou do surf...
            Sim, já surfei pelado, de ressaca, e também bêbado, em momentos diferentes, claro. Também surfei sob a lua cheia muitas vezes, completamente sozinho, encolhendo os dedos dos pés cada vez que lembrava que tubarões não dormem à noite. Uma vez saí do mar cm meu cunhado (meu último aluno de surf), driblando os raios que caíam pertinho de nós durante uma “senhora” tempestade.

... clique para ler. Do ste oba_la_vem_ela.blig.ig.com.br
            Fiz inúmeros sacrifícios para ir surfar, como ir de carona num caminhão, lá atrás, dividindo o espaço com a prancha e umas caixas de som gigantes sacudindo sem parar, sendo açoitado pelas folhas à margem da estrada e engolindo mosquitos o tempo todo. Também coloquei nove pessoas e três pranchas dentro de um fusca - não me pergunte como eu fiz isso - numa noite que chovia mais dentro do carro do que lá fora. Dormi em varandas e casas de veraneio sem saber quem eram seus donos, em suas “confortáveis” áreas.
             Desesperado para não perder um "swell" que entraria de jeito em Ponta Negra naquela semana, bem na hora em que eu deveria estar dando aula, bolei uma aula inaugural de Excel na praia. Isso mesmo, Excel na praia, e sem computadores. Três turmas juntas, alunos satisfeitíssimos e surfei boas ondas. Ah, e ainda me pagaram para isso...

... conferindo as tarefas dos alunos - aula de Excel na praia...
            Uma vez deixei minha prancha no guarda-volumes da biblioteca da Universidade Federal, pois após o trabalho em grupo o fim de tarde prometia boas ondas. Circulei pelo centro de Curitiba com meu filho mais novo carregando minha prancha nova, sob os olhares curiosos e sérios tipicamente curitibanos...
            Esses são alguns dos muitos momentos e situações vividas, tudo em troca do prazer de estar lá fora e surfar outra vez, e de novo, outra vez...


... do site surfecult.com
             Ninguém pode prever o futuro, mas uma “cousa” eu espero do meu: tal qual o Sr. Doc Paskovitz, (www.paskowitz.com) quero estar sempre surfando. Sempre, até meu corpo não mais agüentar.

... Doc, exemplo de vida. Do site doc paskowitz_boardistan.com
           Então, depois disto, quando só me restar o software, surfarei na mente, nas lembranças, e viverei novamente todas as sensações que o surf me deu. De novo, e de novo...

... nem morto eu paro de surfar! do site recadosinsanos.com.br
             E você, quando vai começar a surfar?


... Surf, uma luz no fim do tubo. do site reggaeportodavida.blogspot.com

...de última hora: Graande amigo Marcelo "Cabeção", recém chegado de Pasti....Yeahhh!!!
 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

UMA TARDE SEGUNDO "EU"...

... escrito aos 13 de maio de 2011, sexta-feira.

Sympathy For The Devil – música dos Rolling Stones, “pero”, Guns ’n Roses tocando. Inconfundível. Agora, paro um pouco de escrever. Após ter falado com um dos meus filhos, que mora em Madrid, vim para este café “bater o ponto”. Aqui é um lugar muito agradável e bonito. Fica numa praça, as mesinhas do lado de fora permitem que se fique bem à vontade. Árvores, algumas casas antigas que se transformaram em lojas, bancas de revista e um “túnel” feito de lojinhas de flores completam a paisagem. Muitas pessoas circulando por aqui dão o tom de cidade grande. Sim, este ligar me atrai, pois além de servir um dos melhores “cafézes(*)” que já tomei nesta cidade, há aqui um clima bom. Os donos, dois irmãos, e sua mãe estão sempre no local, e são eles que atendem aos fregueses. Todos eles são “boa praça”, pessoas boas de conversar e que fazem a gente se sentir bem à vontade. Sabe aquela sensação de sentir-se em casa? Quase sempre que estou aqui me sinto inspirado para escrever. Além de tudo isso, pode-se fumar nas mesas, pois estamos a céu aberto. Perfeito...

... o café, num dia qualquer. Tirado do site flickr.com. Este cara não sou eu...
(*) CAFÉZES: hábito “piadístico”, minha maneira de referir-me ao plural de café, que para os demais mortais é Cafés. Assim o digo, por melhor que esteja esta bebida. Minha mulher já não agüenta mais quando falo isso em público, pois acha que as pessoas me tomarão como um ser que ignora os plurais. Sinto muito, querida, mas nada posso fazer em relação a isso: é algo mais forte que eu...

            Sentei-me aqui hoje com a intenção de fumar, tomar um café e escutar as mais de 50 músicas que baixei para o meu celular. Donavon Frankeinreiter, Mecano, Amistades Peligrosas, algumas do filme Pulp Fiction, The Cult, Guns e muitas outras. Ledo engano achar que eu conseguiria ficar sentado ali, parado. Minhas mãos logo começaram a coçar, fiquei inquieto e quando dei por mim, lá estava meu caderno bem à minha frente, folha em branco e caneta a postos. Mesmo sem nenhuma idéia concreta sobre nada, sequer uma frase para iniciar algo, poema ou conto, eu sabia que iria escrever. E comecei, mesmo sem título ou assunto nenhum. “Por que eu vejo as coisas diferentes de como elas realmente são?”.
            Esta frase surgiu assim, do nada. A música tocava só para mim, ensurdecendo-me em relação ao mundo exterior. Assim o texto foi fluindo, a caneta não conseguia mais parar, criando algo meio amorfo, algo que eu sequer sabia onde iria chegar. Após alguns muitos parágrafos foi que me dei conta do quão interessante é olhar as pessoas ao redor e escrever sobre elas, sem saber o que realmente estão dizendo. Mais que imaginá-las, me é possível senti-las. É fácil fazer isto quando estas têm apenas imagens e não sons, pois as conversas entre elas não me fazem divagar e perder-me por outros caminhos, pelo que elas dizem. Fico então livre para pensar o que quiser sobre todos. Para criar seus mundos, senti-las pelo olhar, pelo que vejo.


... também do site flickr.com
             O único porém é que, para fazer isto, você tem que ter cuidado para não ser mal interpretado caso seja pego olhando alguém assim, nos olhos. Você tem que ser econômico no olhar. Ser rápido, vê-las não com os olhos, mas com a alma. A música te ajuda porque faz você olhá-las sem nenhuma idéia pré-concebida do que estaria escutando delas, e sim com a cabeça vazia. Somente captá-las. Observá-las.
            Esta observação surda vale não só para as pessoas, mas também para todas as “cousas”: prédios, carros, cores, clima, o dia em si... Isto é sentir o mundo. E por mais louco que isto possa parecer, não importa, é bom colocar tudo isto no papel, sem nenhuma preocupação do quê ou de como será tudo. Então, lá vai. Se você agüentou ler isto até aqui, boa viagem e espero que goste...

... pra varias, ainda o café. do site curitiba.paises-america.com



UMA TARDE SEGUNDO "EU"

Por que eu vejo as coisas diferentes de como elas realmente são? Como se, em vez de enxergar o mundo, eu o sentisse. Parece que tudo tem sua consistência: o ar, a luz do sol, o cinza de uma tarde como hoje... Tudo isto pode ser sentido.
            Às vezes olho as pessoas e posso saber exatamente como elas são. Quase a ponto de saber o que pensam. É, saber como se sentem. Como se eu soubesse até o caráter delas. Através dos seus olhos, dos gestos, sei como elas são, como se sentem. Muitas das que passam por aqui agora estão vazias, perdidas em si mesmas, ou de si mesmas. Apenas vagando.

... do site macanderson.com.br

            Um grupinho de pessoas na mesa ao lado está ansioso por hoje ser finalmente sexta-feira. E não importa se é dia13, pois finalmente hoje é sexta-feira! Dentre eles alguns têm uma cumplicidade, diria eu, até proibida. Dali se poderia conseguir um bom material para um livro que envolvesse traição, ganância, relações extraconjugais e outros assuntos ilegais. Numa outra mesa ao lado deles um homem os observa. Ele os conhece, pois até ri com eles, mas sente-se excluído, pois não participa dos sentimentos deles. Ele também está eufórico com a chegada do final de semana, mas sua euforia é superficial em relação aos demais. Sente-se inferior até em não ser um deles. E sua não-aceitação não é devido à diferença social ou hierárquica. Simplesmente é porque eles o classificam como um chato.

O senhor de ascendência japonesa, baixinho, que passou por aqui meio encurvado de frio, mãos nos bolsos, estava preocupado. Talvez os negócios não estejam indo muito bem. Queda no movimento, vendas abaixo do esperado nesta época do ano, contas a pagar, prazos vencendo. Mas, pela sua expressão ele sim vai conseguir saldar suas dívidas em tempo. Como sempre o tem feito. Afinal, sua casa, filhos, esposa e alguns parentes dependem disto. Em seu olhar está a certeza disto. Cada ruga daquelas que ali se estabeleceu custou-lhe objetividade nos pensamentos, retidão e firmeza nos atos. Ele vai ficar bem, até o meio do próximo mês, quando as preocupações tornarão a aparecer, impulsionando-o ao próximo e repetitivo desafio.
... do site judhukika.wordpress.com
           
Do casalzinho apaixonado na mesa em frente não há muito que divagar. É paixão mesmo. Sim, eles se gostam. Bem jovens, daqueles casais que sentam bem pertinho um do outro. Beijos de olhos fechados.  E que, mesmo quando os “cafézes” chegam, obrigando-os a uma separação, continuam se tocando com as pernas, as pontas dos joelhos. Eles só têm olhos um para o outro. Seus carinhos não estão baseados em exibicionismo ou qualquer tipo de narcisismo, mas em carinho mesmo! Isto é tão bom...

Dois homens em uma outra mesa. Chegaram há pouco. O grisalho toma uma xícara grande de café, do tamanho da minha, só que com chantilly (Uuuuiii...). E fuma. O outro, mais jovem, só fuma. Deduzo que eles trabalham juntos, e que o assunto que o mais velho relata é sobre algum fato que ocorreu na empresa. Uma determinada situação onde ele conseguiu algo positivo, mesmo infringindo alguma(s) regra(s). Não sei se regras de funcionamento da empresa ou simplesmente regras morais, princípios. O outro o escuta, concorda com a cabeça, sorri até, mas vejo que no fundo ele não está de acordo com os métodos empregados pelo colega. Seu olhar reflete bem a sua posição, mas ele não externa sua opinião. Ele não o faria assim. Não ele. Tudo bem, ele não vai contar nada ao chefe, pis seu coleguismo evoluiu já para um nível de amizade, camaradagem. Mas realmente ele desaprova a atitude do outro. Por detrás dos óculos seus olhos denunciam retidão de caráter. E, em excesso.

...do blog varaldecalcinhas.blogspot.com
Rondam por aqui algumas prostitutas. Parecem ser já um patrimônio histórico do local. Elas são educadas, não se oferecem abertamente a ninguém, sequer com olhares. Acho que se eu ilhar nos olhos de alguma, aí sim haverá reciprocidade. Mas, eu é que não vou me ariscar! Elas são, digamos, tipicamente curitibanas, devido à seriedade em suas expressões. Até parece que não falam com estranhos! Se as visse em qualquer outro lugar, numa loja ou num shopping, por exemplo, jamais adivinharia suas profissões, pois seria fácil tomá-las por mães ou avós comuns, pacatas donas de casa.


... do blog diogenesdi13.blogspot.com
            A morena, mais baixa, hoje vai ter clientes. Será um dia bom para ela. Está segura disto, talvez até o encontro já esteja maçado. Ela anda com desenvoltura, nada exagerada, mas há segurança nos seus gestos, no seu sorriso. Já a Senhora loira, com mais idade, está preocupada. Ela olha as pessoas ao seu redor com uma certa angústia. Está negativa mesmo. Talvez até consiga alguém, mas certamente irá querer esquecer esse dia...

... do blog ripanosmalandros.blogspot.com
           
Daqui observo uma igreja. Catedral. Meu irmão contou-me que há muitos anos atas ali se salvava apenas as almas dos brancos. Sim, as cores do céu. A cor preferida de deus. Havia na cidade uma outra igreja, destinada aos negos, não muito longe dali. Imaginem isso: uma religião que hoje tem milhões de seguidores, que com alarde prega a paz, a igualdade e a fraternidade, no passado privilegiava mais aos claros que aos escuros... Quando é que as pessoas irão acordar?


... a igreja, escondendo seu passado com tamanha beleza. Do blog rafaelfabriciomkt.blogspot.com

Na torre esquerda da igreja, num estreito parapeito, passeia um casal de pombos. O macho, marrom, persegue a fêmea – branca, e cada vez que ele se aproxima dela, encurralando-a, ela voa para o outro lado. E ele a segue, tentando outra vez. São três tentativas no total. Ele em que tentou, mas hoje não! Dor de cabeça, indisposição, TPM (pombos menstruam?!?!?), ou simplesmente, hoje não! Como todo macho ele vai continuar as investidas. E é bem provável que ela, como toda a fêmea indisposta, seguirá negando. E então? Se for mesmo verdade que os pombos são monogâmicos, então hoje ele vai ficar o resto do dia “de bico”. Bem, ele sempre está de bico. Melhor: vai ficar de mau humor mesmo. Agora, se a tal monogamia dos pombos for apenas uma lenda romântica, então vai ser fácil ele recuperar seu bom humor. Não é só a arte que imita a vida, mas seres humanos e animais se parecem muuuuito...

... do blog musasfitness.blogspot.com
A vendedora de flores está com uma cliente. Ela segura um vaso com flores rosa – flores do campo, acho – com uma decoração de gosto duvidoso devido ao excesso de papeis decorativos com suas cores berrantes que ornam o tal vaso e um horrível laço “pregado” à alça deste. A vendedora, uma bonita jovem, explica algo à cliente, que parece ser recepcionista em uma grande empresa. São muitas as perguntas da cliente respondidas pela moça. Ela é uma boa vendedora, pois mesmo não estando com a cabeça ali naquele momento (não, ela não foi decapitada, só está com os pensamentos em outro lugar que não ali), a venda foi efetuada. É bem certo que a cliente já estava pré-disposta a comprar flores, mas não podemos tirar o mérito da vendedora. Enquanto atendia a senhora, ela estava preocupada. Olhava muitas vezes para o lado, mesmo enquanto falava, procurando alguém. Provavelmente esperando o namorado que ficou de passar ali para vê-la e, mais uma vez, não apareceu. Ela desconfia – talvez até já tenha certeza – de que ele a está traindo. Mais uma vez...


... do blog bebumentediado.blogspot.com
Após a venda ela conversa com outra vendedora. Sua comissão não deve ter sido tão boa a ponto de contentá-la, pois ela se expressa com agressividade, contando-lhe algo. E seu dedo indicador, em riste, denuncia sua raiva. Sua indignação. Aquela seria a última traição dele! Por que ela tinha que ter se envolvido com alguém como ele? Chega! “Dessa vez é sério!”. E o pior é que o pobre rapaz, para tentar persuadi-la, terá que ser muito criativo no presente. Nada de flores...
Hoje é o dia de sorte dela. Pelo menos no trabalho, pois já está atendendo novamente.  Duas clientes ao mesmo tempo. Flores, flores, flores... Melhor ela ter muitos clientes hoje, mergulhar no trabalho. Isso vai ajudá-la a esquecer um pouco da própria vida.

            Um senhor anda com dificuldade do outro lado da rua. Uma muleta, dessas de alumínio, apoiando-se nela com o braço direito. Negro, cabelos brancos, usa uma camisa xadrez, calças confortáveis e tênis. Óculos também. Depois do que lhe aconteceu, AVC provavelmente, teve que reaprender a viver. Readaptar-se à sua nova condição. A palavra “pressa” passou a ter outro conceito. Pelo jeito ele já está assim há tempos. Os piores momentos, os do começo, já se foram. As dores, a incerteza do que lhe sobraria de vida - se é que sobraria algo - quais seriam suas limitações, tudo isso ficou para trás. Hoje ele está resignado. E consegue até ser feliz. Afinal, superar o medo da morte, vencer um momento assim faz com que qualquer pessoa aceite o que lhe vier. E de bom grado.
... do site zazzle.com.br
            Certamente que a dor não foi exclusividade dele. Seus familiares também sofreram – e muito! Afinal, ele é uma pessoa muito boa, daquelas que são amigas de verdade. Quando “aquilo” lhe aconteceu, todos os seus brigaram com deus, perguntando-se o porquê daquilo ter acontecido logo com ele! Tantos políticos e ladrões (perdoem-me a redundância) saudáveis por aí, mais merecedores de tal castigo... Por que logo com ele? Sim, a revolta foi grande, mas logo deu lugar ao alívio. Alivio de ele ainda estar ali, vivo, podendo falar, andar, pensar. Resignação mesmo. E, em parte, ele os ajudou nesse processo de aceitação, fazendo com que todos, como ele, se redimissem com o “Criador”. Religioso que sempre foi, em vez de raiva, ele agradeceu o fato de ainda não ter chegado a sua vez. Inclusive alguns até admitem – secretamente, claro – que depois do que lhe aconteceu, ele até se tornou uma pessoa melhor, mais serena, calma e compreensiva. Até ele, pelo que vejo, começa a admitir isso. Pois hoje ele já não sai mais com os amigos à noite para beber e arranjar algumas “namoradas”, enquanto mulher e filhos sentem sua falta em casa, à sua espera. Então, admitindo isto, ele estará totalmente em paz. Foi-se. Sumiu da minha vista. Bem, "Vá em paz" senhor...

Lá está ela: a mulher-gari.  Com sua potente vassoura e seu uniforme cor de laranja-radioativa, estacionou seu “carrinho-lixeira” na esquina e varre aquele trecho da rua. Ela o faz tão mecanicamente que tenho certeza que se alguém atravessar seu caminho jamais casará, pois ela varreria os pés dele sem querer.


... do site housefashion.com.br
Já a vi em outros locais da cidade. Ela é baixinha, suas feições me lembram o Chaves (do Kiko), da TV. Tem um olhar meio vazio, perdido, típico das pessoas que não muito chegadas a pensamentos mais profundos. Uma vez, fim de tarde, passei por ela numa determinada rua e a vi separando algo do lixo antes de depositá-lo em sua lixeira. Era um tesouro qualquer, algo que ela teve a sorte de encontrar, separando-o para si. Nossos olhares se cruzaram exatamente no instante da sua alegria diante daquele achado. Ela pareceu envergonhar-se, seu rosto praticamente sumiu dentro daquele chapéu engraçado que ela usa, da mesma cor do uniforme e com grandes “orelhas” que lhe chegam aos ombros. Então, naquele exato momento, captei o que ela sentiu com tamanha intensidade que a vergonha dela passou para mim. Fiquei com tanta vergonha em tê-la surpreendido naquela hora que simplesmente não consegui sequer cumprimentá-la, desviando meu olhar para o chão, para bem longe daquela situação. Isso mesmo, normalmente cumprimento pessoas que não conheço, principalmente se são trabalhadores das ruas ou gente “sofrida” em geral. Acredito que, às vezes, sorrisos e palavras são como um agasalho para almas mais necessitadas. Mas, ali, não consegui. Fiquei mudo e envergonhado por ela. Transferência de sentimentos em excesso, creio eu...

... do site irrestrito.com

Lá está ela, na outra esquina. Sua desenvoltura com a pá e a vassoura é impressionante: rapidamente ela recolhe toda a sujeira ao seu redor, isso em meio aos nervosos e apressados transeuntes que passam por ela. Agora entendo por que seu uniforme tem aquela cor tão berrante: os pedestres sempre desviam dela, pois mesmo com pressa, no meio do caminho eles percebem com o “rabo do olho” aquela cor que indica “ATENÇÃO PERIGO!”, e mudam suas rotas. Só não sei por que suas luvas são azuis. Acho que aí é uma questão de gosto...
Hoje ela não me viu. Agora, ao terminar de escrever isto, olho novamente e ela não está mais lá. Melhor assim, pois eu já estava tão envolvido neste assunto que protelava a idéia de ir até ela para agradecê-la por manter a cidade tão limpa. Acho que levaria uma vassourada na cabeça. Então ta. Bom trabalho para você! Espero que encontre muitos “tesouros” hoje!
Engraçado. Não sei precisar ao certo há quanto tempo estou aqui. Algo em torno de duas horas ou mais. Em todo este tempo minha única interação foi com um dos donos do café, a cumprimentá-lo e a pedir “cafézes”. De resto, ninguém mais. Esse exercício mental abstraiu-me do mundo e de mim mesmo. Como se eu não fosse realmente mais uma pessoa sentada aqui. Acho que me transformei num narrador onisciente, daqueles que contam a história sabendo e vendo tudo o que se passa, mas sem participar dela. Como se eu não estivesse aqui. E as poucas pessoas que me olharam, não me viram realmente, pois estas pareciam enxergar através de mim. Não fosse o Ale, meu amigo que me atendeu, eu questionaria, além da minha sanidade, minha própria existência hoje.

... do blog ade400.blogspot.com

Neon Sunrise – I am Giant. Se você ainda não conhece esta banda, vale à pena dar uma conferida no Youtube. Muito boa. Eu e minhas propagandas gratuitas... Começo a ficar ansioso agora, meio com raiva até. Quero sair daqui, andar pelas ruas, talvez ir a uma “Lan House” checar como anda o mundo virtual: e-mails, ofertas de emprego de “gente grande”, comentários no Blog, mas não consigo. A inspiração continua e tenho que encontrar um final para este texto. Acho que a ansiedade vem das duas xícaras grandes –baldes - de “cafézes”. Melhor pedir uma água mineral com gás. Talvez assim eu desacelere um pouco...
E você, o que pensa quando vê alguém andando pelas ruas? Talvez você ande tão acelerado que nem perceba o que se passa ao seu redor. Com pressa, atrasado, com tantas metas e objetivos a serem atingidos, muitas vezes você, em alguns momentos, nem repara que existe mais alguém além de você. Talvez viva tão mecanicamente que nem sinta mais os dias passando para você.

.. pois é.. do blog marciaamad.blogspot.com
Quantas vezes você não teve a certeza de que o tempo, ultimamente, anda passando rápido demais? Pensamentos do tipo: “Nossa, mas já faz tanto tempo assim? Parece que foi ontem...”, ou “Credo, já estou com 43 anos!”. As crianças crescem rápido demais. Rugas brotam em sua face assim, do nada, como que da noite para o dia, e você nem as percebe a tempo! Seus parentes envelhecem muito rapidamente, o natal parece que vem logo após o carnaval. Como é possível tudo ser assim, se os dias ainda tem 24 horas e os anos, como sempre, têm seus 365 (alguns 366) dias? Como?!?!?!
Já “falei” sobre isto antes, mas nunca é demais insistir: sempre que você se pegar com essa sensação, esses pensamentos sobre o tempo “a jato”, pare tudo. Pense! Se, fisicamente, o período de tempo é sempre o mesmo, então é impossível que este esteja passando mais rápido. A resposta para esta questão começa pelo “velho” Einstein: o tempo é relativo! Se você vive sem perceber que está vivo, sem sentir suas horas, seus dias, então sua vida passará por você assim, sem que você se dê conta que está vivendo. E você não perceberá o que acontece ao seu redor. E aí, meu camarada, você não vive, você sobrevive.


... do blog agadirangel.blogspot.com
Talvez você esteja pensando demais e sentindo de menos. Claro que pensar é essencial, mas geralmente, ou pensamos muito no que fizemos, antes, ou então ficamos “matutando” sobre o que faremos, depois. Aí estaremos sempre, ou vivendo sempre no passado, ou no futuro. E o presente seguirá passando por nós assim, sem que vivamos este momento.
Por exemplo: quando comecei a escrever isto, era presente. Já virou passado. E agora mesmo, no instante em que minha caneta cria novas formas de letras e palavras (a bem da verdade, garranchos quase que incompreensíveis, diria eu), escrevo e vivo isto, sinto cada segundo do que estou fazendo agora, do meu presente. Vivo o meu momento, o meu “agora”, agora mesmo! E quando eu for revisar e depois digitar tudo isto (só de imaginar bate uma preguiça daquelas!) estarei relendo e analisando um passado que vivi plenamente, cada segundo dele. Sim, saboreei cada instante da minha vida neste momento.


... do blog milajolie.blogspot.com

Então, senhoras e senhores, o que espero de tudo isto? Simplesmente dar-lhes um conselho: desacelerem um pouco! Já que todos precisamos de rotinas para viver (creio que o ser humano hoje se encontra na fase do Homos Rotinificus), que tal incluirmos nesta uma pausa? Num momento qualquer, pare tudo, feche os olhos e respire devagar, sentindo o ar entrando pelos seus pulmões ao inspirar. Saboreie-o. Tente inalar um pouco mais de ar do que o normal. Então, prenda-o por alguns poucos segundos e depois, solte-o devagar. Assim, expirando um pouco além do seu limite. Repita isto algumas vezes. Asseguro-lhes que esta prática, se incorporada ao seu dia a dia, irá trazer algo diferente para você. Parece que tudo dá uma “aliviada”, que as “cousas” começam a fluir de uma forma diferente. Não tenha medo, pois com certeza mal não lhe fará.
Outra “cousa” boa de se fazer é, em qualquer situação, dar um basta à realidade. Como se você saísse um pouco de você mesmo. Tipo: você está numa situação qualquer, fazendo algo comum, mecanicamente. Naquela hora, imagine-se como se você fosse uma outra pessoa, vendo você fazer aquilo. Como se você se afastasse um pouco daquilo, tornando-se um observador de você mesmo. Isso faz você enxergar aquela situação de uma outra maneira, sob um prisma diferente, e conseqüentemente você verá detalhes sobre aquilo tudo que antes lhe passavam desapercebidos. Ajudará a ampliar seus horizontes, a ver novas possibilidades em tudo.


... do site gilsoncamargo.com.br

Estes foram dois pequenos exemplos de “atividades” que lhe ajudarão a frear um pouco, a sentir mais você em cada momento seu. Alguns chamam isso de meditar. Outros dizem que se parece com relaxamento. Sei lá, não gosto de rotular nada, nem de seguir cartilhas sobre isto. Sei que isso me faz bem. Você vai sentir algo parecido com o que eu sinto quando estou lá fora, sozinho, sentado na prancha, esperando as ondas chegarem. Não me desespero em esperá-las, pois lá sempre procuro ficar calmo e relaxado. E isto me dá a certeza de que elas logo virão para mim. Certeza esta que vem da calma que me invade quando troco o pensar pelo sentir. Sinto-as vindo, marchando até mim no horizonte, chegando...

Depois de ler tudo isto você pode concluir que eu finalmente enlouqueci! Com certeza você não será a primeira nem a última pessoa a pensar isto. E, cá entre nós, não me importo nem um pouco com isto – se me importasse, não teria publicado este Post. Se esta for sua conclusão, não deixe de ler meus próximos textos, pois dizem que ler escritos malucos diverte a gente, descansa um pouco o cérebro.


... do blog malkavian_vampire_loko.blogger.com.br

Sei apenas que tenho o meu “feeling”, minha forma de ajustar minhas idéias. E, melhor ainda, sinto-me muito bem comigo mesmo. Realmente, isto é o que importa. Pouco a pouco, dia após dia, vou-me conhecendo melhor, descobrindo-me, aceitando-me mais e mais. Sinto que este é o caminho. O meu caminho. Então, procure o seu, fique em paz com você mesmo. Garanto que vale muito à pena!
PS: Este texto que você acabou de ler me veio assim, de um jeito todo estranho. Primeiro descrevi a tarde, sentado aqui, vendo as pessoas ao redor com um “fundo musical” particular. Depois veio o título e, por fim, a explicação de tudo, que está lá no começo. Se você chegou até aqui, agradeço um comentário qualquer, mesmo que seja uma sugestão de internamento imediato, remédios controlados ou quem sabe abandonar papel, caneta e principalmente os “cafézes”.

... do site bestrecados.com


sexta-feira, 13 de maio de 2011

TATU II - A Missão...

Não sei o que aconteceu... Postei isto anteontem. Mandei para todos sobre a postagem, tive até alguns comentários e depois, "Tuduffff!!!!"... Sumiu! Lá vou eu de novo...

TATU
... os TATUS lá de casa - acreditem, eram parte da família...

Uma vez meu irmão mais velho trouxe dois tatus para casa. Eles estavam sendo vendidos na praia, onde também eram chamados de “pebas”, e dizem, são um bom prato. Claro que não os comemos, pois eles se tornaram, digamos, parte da família. Então, além de cachorros, peixes, galinhas, tartarugas, passarinhos, coelho e gansos,  posso dizer que até tatus já tivemos em casa. Eles eram engraçados, mesmo sendo um tanto inexpressivos. Quando nossos cachorros os surpreendiam tentando “assaltar” suas rações, sérios desentendimentos aconteciam. Dentes e força bruta não eram sufucientes para transpassar suas carapaças. O bicho é mesmo tinhoso! Moraram conosco por um bom tempo, até que após muito cavarem, creio que encontraram um paraíso perfeito para eles: o cemitério, localizado bem em frente à nossa casa. Mórbido, não?  Não sei bem ao ceto do que tatus se alimentam, mas se carne fa zparte da sua dieta então eles não devem se preocupar muito com o prazo de validade dos seus alimentos. Assim, nunca mais os vimos...

... saudoso LOBO, que adorava jogar TATUBALL...

                Mas, não! Não é desse tipo de tatu que escreverei hoje! Na verdade, escreve-se assim: TATTOO! Isso mesmo, tatuagem – uma arte milenar!
                Sempre costei da expressão “Arte Milenar”. ARTE: palavra mulyiuso, livre, que nos oferece infinitas possibilidades de aplicação e definição. Faz-me imaginar algo colorido e com grandes asas nas costas, alçando vôo e, não sei por que, destacando-se sobre um fundo escuro. Não consigo imaginá-la estática, pois para mim todo o tipo de arte tem movimento por si só. Já a palavra MILENAR: remete-me a um velhinho chinês, com bigodes compridos e finos; magro, porém saudável, com um olhar risonho e ao mesmo tempo sereno. Ele é sábio, mas não costuma valer-se dessa sapiência com presunção. Por isso mesmo é sábio. Sua idade gira em torno dos mil anos ou mais...
... do blog amanhasereimelhor.blogspot.com
                TATUAGEM: UMA ARTE MILENAR! Não se sabe ao certo quando o ser humano começou a pintar o próprio corpo de forma definitiva. Pintar, gravando desenhos, símbolos ou palavras para que estas nunca mais desapareçam. Diferente de desenhar, que apenas provoca cócegas, tatuar dói, pois você está arranhando, esfolando a pele num certo nível de profundidade e ali, na ferida, injetando tinta. Envolve sangue, cicatrização e todos os cuidados que se tem com qualquer machucado, como pomadas, abstinência de comer camarão (Obaa!!!) e outras precauções. Só assim o desenho ficará sempre ali.
                Sabe-se que as tatuagens foram introduzidas no ocdente pelos antigos navegadores que, ao voltarem de suas viagens pela região da Polinésia, por entre as centenas de ilhas espalhadas no Oceano Pacífico, aportavam, ao regressarem, já “carimbados”. Assim, tal costume foi-se difundindo por estas bandas. Isto, quanto à origem deste costume no ocidente, pois especúla-se que algumas tribos antigas, inclusives pré-históricas, cultivavam tal hábito em diversas regiões do planeta. Creio que o isolamento dos polinésios e de seus vizinhos contribuíu para que este costume perdurasse entre eles, uma ve que estes não “evoluiram” da mesma forma nem com a mesma interação e velocidade que os demais povos. Assim, mantiveram este costume entre eles, e muitos ainda o mantém. Se um povo se isola, suas tradições são mantidas, diferente dos que se misturam e acabam agregando e desprendendo-se dos seus antigos valores.

... do site balaiodefatos.com

                Inicialmente a chegada das tatuagens foi associada aos, digamos, maus elementos. Isto é bem fácil de explicar. Grande parte dos marinheiros, naqueles tempos, não era o que se poderia descrever como “homens de boa índole”. Numa éopca em que instrução era algo disponível apenas aos nobres – classe esta que não incluía esses homens dos mares – imagine um bando de homens pouco ou nada instruídos vivendo por meses a fio confinados dentro de caravelas, SEM MULHERES!!! – e em condições muitas vezes precárias, singrando mares muitas vezes desconhecidos. Viagens onde a incerteza e o medo da morte simplesmente faziam parte de suas vidas. E, não ria: eles tinham medo de Monstros Marinhos, e muitos acreditavam que se navegassem até uma certa distância, numa determinada direção, simplesmente eles caíriam do mundo! Então, depois de tanto tempo convivendo com esses e outros temores, os que tivessem a sorte de desembarcarem em tera firme, certamente precisariam extravasar toda aquela tensão comemorando e “bebemorando” muito. Porres homéricos, brigas e muitas confusões certamente compunham suas descrições. Além da aparência e do cheiro nada agradáveis, eles também chegavam com estranhos desenhos marcando seus corpos. Fácil de associar as duas coisas...
                Junte-se a isto o fato de que na época imperava por aqui o catolicismo, com suas regras castradoras, seus dogmas e imposições criadas e aplicadas por pessoas frustradas, covardes e bitoladas, sempre no afã de manter o povo sob seus domínios, na mais tenebrosa das trevas. E tudo isso em nome de um deus! Qualquer ato ou comportamento que fugisse às regras dos clérigos era considerado errado, pecaminoso, muitas vezes até punido com a morte. Ou: toda demosntração de não-submissão não era bem vinda! Então, tatuar-s sim era obra do Diabo, do “Sapricó”, do “Coisa-Ruim”. Era gostar e algo que não fosse oriundo do “deus idota” que os religiosos impunham aos demais.

... do blog interessantestemas.blogspot.com

                Felizmente, como seres humanos são, em sua essência, são inteligentes (procuro convencer-me disso todos os dias, mesmo com tantas provas em contrário.), a religião foi – e vai – pouco a pouco perdendo o seu poder, sua autoridade, vendo-se obrigada a moldar-se de acordo com a sociedade. Sim, religiões ainda detêm muito poder e riqueza, mas “graças a deus”, cada vez com menor expressão e influência. Assim, o poder do homem, ou seja, do Estado, triunfa cada vez mais sobre o da religião. Hoje, bispos não podem mais queimar mulheres acusando-as de bruxas só porque elas são canhotas, porque menstruam, ou então porque eles não podem tê-las. Só o Estado pode fazer isso, mas esta é outra história...


... do site vsites.unb.br

                Mesmo que vivamos numa época mais liberal em diversos aspectos, o preconceito em relação às pessoas tatuadas ainda existe. A partir dos anos 60 sociedades inteiras se revoltaram contra a forma como suas vidas eram conduzidas, isso quase que simultaneamente em diversas partes do mundo. Surgia a contracultura. A música virou Rock’n Roll; homens deixavam seus cabelos crescerem e fugiam de suas obrigações militares, das guerras que não eram suas; mulheres passaram a ter voz e vida própria, direitos iguais enfim; o racismo, uma das maiores provas da estupidez do ser humano, começou a ser visto como tal; hippies (meus heróis) disseram não à sociedade, pregando a paz e o amor – e as drogas, o único “lugar” que tinham para fugirem de um mundo absurdo. E, claro, as tatuagens, símbolos permanentes, passaram a ser uma maneira das pessoas protestarem contra o sistema, mostrando ao mundo, através de imagens, uma forma pessoal de ser, de ter direito de fazer o que bem entender com o próprio corpo.
                Não importa qual seja o desenho, ali o tatuado mostra aos demais algo além de uma simples figura. É uma atitude. Algo contra a reprovação dos outros. Chocar! Mostrar que nem todas as regras são “engolidas” contra a sua vontade. É um “foda-se” com estilo, com arte! “Eu penso assim e não ligo para o que você pensa de mim...!!!”

... do blog gospelgay.blogspot.com

                Dizem que depois de fazermos nossa primeira tatuagem há uma imensa possibilidade desta não ser a única. Não encaro isto como uma regra, mas sinto que é verdade. Pelo menos no meu caso. Engraçado: há muito tempo atrás, bem antes do meu primeiro “carimbo”, perguntei ao meu pai – já mal intencionado – o que ele pensava sobre tatuagens. Ele disse que não gostava disso, que pessoalmente jamais faria uma e acrescentou que isso era “coisa de marinheiro”. Bem, pelo menos não disse que eram costumes de vagabundos ou drogados... E eis que, alguns anos depois, lá estava eu na antessala de um estúdio para fazer minha primeira “tattoo” esperando pela minha vez para ser carimbado. Eis que saem da sala principal dois marinheiros, recém tatuados. Por que insistimos em discutir com nossos pais?e, falando em pais e tatuagens, vejo também que há uma cetrta “hereditariedade” nisso tudo... meu filho mais velho já deve estar na terceira tattoo. E o mais novo, começou agora nesse mundo... só falta o “do meio”, mas logo logo ele chega lá...

... última tattoo do meu "fio" mais velho.. hereditariedade???

                Quando, tempos depois, regressei do estúdio com minha terceira tatuagem, alguém me perguntou o que eu faria caso me arrependesse de tê-la feito.  Hoje, quase vinte anos depois, quando comecei a “reformar” minha  quinta tatuagem, uma amiga me fez a mesma pergunta. O curioso é que a resposta foi a mesma de antes,  com a mesma velocidade de alguém que responde sem pensar: “Eu nunca vou me arrepender!”
                Minhas tatuagens foram feitas em épocas diferentes e cada uma delas me faz lembrar o que vivi naquele período. Cada desenho, um significado próprio. Uma fase da minha vida. Gosto de estar desprevenido e de repente assim, de surpresa, passar os olhos sem querer e vê-las ali. Pois também gosto  de relembrar o que vivi. Afinal, gosto do meu passado e, mesmo sem ser uma pessoa essencialmente saudosista, quando relembro minha história,  o faço com prazer, sem grandes arrependimentos.
Certamente que muitas pessoas reagem de diferentes maneiras quando vêem minhas tatuagens. Algumas devem pensar que sou um marginal, um drogado ou até um rebelde. Imagine, um “senhor Rebelde”. Com essa idade? Velho bobo! Os que pensam assim, com certeza nunca conversaram comigo. Outras devem apenas achar que é uma questão de gosto. Ou de mau gosto, seja pelos desenhos ou por simplesmente eu ser um tatuado. Essas não julgam meu caráter e sim minhas escolhas. Ponto para elas. Mas, sim, e daí? Gosto, claro, é algo pessoal e quase sempre intransferível. E, claro, indiscutível. Afinal, dizem até que há quem torça pelo internacional de Porto Alegre...



... meu dragão, quando incompleto...

                Um bom e antigo amigo, médico (ver postagem AMIGOS, neste mesmo Blog) disse, quando fiz minha segunda tatuagem, que havia uma grande vantagem no fato de eu ser tatuado: se um dia eu sofresse uma morte horrível, daquelas que nos desfigura o rosto por completo, seria fácil identificar-me devido Às tatuagens. Pratico, não? Claro que ele não tem tatuagens...
                Então, se você não tem nenhuma tattoo, talvez não consiga achar nenhum desenho bonito em ninguém. E se você é um “carimbado”, talvez até admire ou critique algumas tatuagens que vê por aí. Pessoalmente, quando vejo uma tatuagem em alguém, pois mais estranha e/ou bizarra que esta possa ser, procuro não julgá-la. Mesmo que eu não goste de algumas e tenha a certeza de que jamais faria “aquilo” em mim, procuro não criticá-la, respeitá-la até, pois desconheço o significado que esta pode e para seu respectivo dono. Questões estritamente pessoais. E, como em tudo na vida, melhor evitar julgamentos, por mais que isso nos seja inerente. Afinal, que direito temos em fazê-lo?
                Agora, um pouco da história da minha última tattoo, composta de 02 processos: 1) Retocar o dragão, as flores e os ventos já existentes que sofreram  um desgaste “surfístico” – culpa das incontáveis sessões de surf prazerosamente realizadas por anos a fio, sem qualquer proteção contra o sol e  2) Continuar a “paisagem”, desenhando um mar, mais ventos e flores, fazendo assim uma manga. Não, não a fruta! Manga porque a tattoo vai cobrir todo o antebraço esquerdo, do ombro até a altura do cotovelo, interna e externamente, tal qual a manga de uma camiseta.
                 Comecei este desenho com um dragão, feito em 2006 por uma excelente tatuadora chamada Laura Helena (http://www.nixtattoo.com.br/), lá em Natal/RN.  Soube que ela agora mora no Rio de janeiro. O desenho ficou lindo, mas logo me dei conta de que errei nas dimensões do bicho. Ele ficou ali, solto e sozinho, perdido no meio do antebraço. Faltava algo! Algum tempo depois decidi dar-lhe um “habitat”, algo ao redor dele, um sol, algumas flores e algo que desse a idéia de movimento - riscos negros, meio dégradés,  em forma de curvas. Coincidentemente fiz essa segunda tatuagem com um tatuador chamado Salomão (http://www.fotolog.com.br/salomaodantas), ex-marido da Laura. Bom desenhista e uma ótima pessoa também.  Um tipo calmo, tranqüilo, daquelas pessoas que riem o tempo todo. Em duas sessões já tínhamos uma paisagem estampada ali.
... Salvador Dali, digo, Salomão Dantas.
Mas, algo aconteceu! Quando faltava terminarmos o sol, retocarmos as flores e colocarmos mais uns “ventos” ao redor, eis que, sofrendo de uma crise de “paixonite crônica” (ler mais na postagem LIBERDADE, neste mesmo Blog) mudei-me para Curitiba e meus “carimbos” permaneceram inacabados. Então, por mais de 4 anos, vaguei entre estúdios e tatuadores caseiros à procura do que busca qualquer cliente de bom senso: qualidade e preços baixos.
                Após alternar períodos de fartura e “faltura” econômica, finalmente pude marcar a continuação da minha tatuagem. Minhas pesquisas, que envolveram dicas, comentários e inúmeras visitas fazendo orçamentos, apontaram para um tatuador chamado Ramon (http://www.ramontattoo.com.br/), pois além de já conhecer seu trabalho eu também tinha gostado dos seus preços. O engraçado é que quando você o vê pela primeira vez não dá pra imaginar que ele é um tatuador. Parece mais um contador ou um professor de química, devido a sua aparência ser pouco comum nesse meio. Ele é sério, baixo, e usa óculos. Seus poucos cabelos curtos em nada lembram o visual dos tatuadores “tradicionais”, embora ele também seja tatuado. Seu estúdio é limpo e organizado, lembrando mais um consultório odontológico, tamanha assepsia. E para quebrar ainda mais o “protocolo”, a mãe dele – uma simpaticíssima senhora tatuada – trabalha lá também, fazendo maquiagem definitiva. Acho que isso envolve “fazer” sobrancelhas -  o que me dá a idéia de tatuar alguns cabelos em mim...


... Ramon, rabiscando um cara...
                Mas, quando ele começa a “rabiscar”, percebe-se que o cara entende do negócio. Tatuado desde os 16 anos - ele deve estar com uns vinte e muitos – ele tem um traço muito bom, além de desenhar bem demais.
Na primeira sessão contornamos meus desenhos “antigos” e fizemos alguns rabiscos novos, tipo esboços do que viria a seguir, para podermos ter uma idéia do que faríamos depois. Cinco dias de plástico e pomada fedorenta e mais uns 10 ou 15 dias “descansando” o braço, fomos para a segunda sessão.
                Foi quando decidi que as flores novas seriam uns hibiscos. Então o  vi copiar da tela do notebook, fotos de dois hibiscos assim, a mão livre, e do tamanho exato. Ao redor ele desenhou o contorno de algumas ondas e foi só “decalcá-lo” no meu braço e começar a sessão. Já em casa, todos quiseram ver o desenho. Como algumas ondas ainda não estavam pintadas nem preenchidas, minha mulher e uma de minhas enteadas logo me perguntaram por que eu tinha desenhado no braço uma “pata de galinha”. E depois dizem que nós homens é que somos insensíveis. Rá Rá Rá... Dor. Na parte externa do braço até que dói um pouco, mas na interna, talvez devido à pele sem mais sensível, a dor é mais forte. Dois, mas é uma dor bem suportável...
... incompleta, 2ª sessão. Não é uma pata de galinha!!!!
Aí veio a terceira e mais dolorida sessão. Três horas ininterruptas. Parte de dentro do antebraço, abrangendo uma área que passa pela altura do bíceps a vai até o comecinho do sovaco. É, meu sovaco é semi tatuado! Que dor horrível! Pior era quando ele chegava bem ali, perto da divisão entre o braço e o tronco, na partezinha do sovaco mesmo.  Nossa, doeu tanto que eu sentia minha caixa torácica tremendo, vibrando ao ritmo da maquininha. E para piorar ainda mais as “cousas”, decidimos assistir a um filme para nos distrairmos. Jogos mortais, um dos últimos! Sadismo puro! Descobri que este filme é em 3D, pois eu sentia as dores de todas aquelas atrocidades em minha própria pele! Ainda bem que eu havia avisado antes que iria gritar e falar alguns palavrões. E que se porventura eu “declamasse” alguns xingamentos, estes não seriam nada pessoais. Teve um momento em que a mãe dele, que estava ali conosco, após algum dos meus urros disse: “Nossa, não sei qual o mais emocionante, assistir ao filme ou a ele!”, apontando em minha direção...


.. detalhes dolorosos, ainda após 2ª sessão...

                O bom é que foram muitos urros misturados com gargalhadas descontroladas por parte de todos. Saí de lá meio tonto e suando frio. Lembro que ao deitar em minha cama, à noite, sentia-me como se eu tivesse corrido o dia inteiro de tão cansado que estava. Todos os meus músculos latejavam e doíam. O pior é que dois dias depois, ao colocar o filme plástico ao redor do braço, acabei apertando-o demais. Inflamou. Doeu. Aliás, doía só de olhar. Melhor ainda: só doía quando eu respirava! Mas, passou... Aguardo agora a quarta - e, espero, última sessão. Pintar as flores novas, retocar e preencher os desenhos antigos e retocar os demais.


.. quase pronta. Falta pintar as flores e retocar o resto. Doeu ali...
Então ta. Chega desse assunto por hoje! Escrevi tudo isso, não para convencer as pessoas que elas devem tatuar-se. Apenas para mostrar-lhes que não se deve discriminar ou pré-julgar alguém só porque esta pessoa decidiu rabiscar o próprio corpo. Julgar o caráter de alguém por causa de tatuagens é tão estúpido quanto achar que alguém é inferior por causa de sua cor, condição sexual ou social. É burrice!!!


.. assim foi ficando. Não repare o banheiro rosa ao fundo...

                Só digo mais uma coisa: se você um dia me perguntar o porquê das minhas tattoos, o que alguns dos meus desenhos significam para mim, eu apenas responderei que minhas tatuagens significam que gosto de tatuagens. E é só!!!!
*********************aqui estão os comentários e resposta da postagem anterior ****************
 deAnônimo - Essa foi da minha nora Iaiá...
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "TATU":
Primeiraaaaaaaaaaa \o/
kkkkkkkkkk...
Nossa que texto tenso cara!!!
kkkkkkkkk, acabei relembrando da minha SUPER dor!
E quanto ao "doía só de olhar... e respirar", não é conversa não hem gente... doi assim mesmo!
rsrs
Bjo e um grande abraço "Senhor Rebelde"(Ri demais com isso, kkkk).
Iaiá.
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 deAnônimo - Essa também foi da minha nora Iaiá...

Ahhhhh!!! Quase esqueci de comentar....
QUE 'BUCHINHO' SEXY ESSE DO SEU FILHO HEM?!?!
KKKKKKKKKKKKKK :D
Iaiá.
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 deAnônimo - Essa também foi do Giovanni, meu filho tatuado mais velho
 Perto do sovaco dói mas nao se compara a costela, voce chegou em casa q parecia q tava correndo o dia todo, eu parecia q tava com dengue, como o corpo doido, todo mole e febril, hohohoho, mas valeu a pena, futuramente vira outra por ai...
BJUNDA: Giovanni
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ESSA, PROVAVELMENTE DE ALGUÉM QUE AGUENTOU SER MEU ALUNO
Diogo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "TATU":
Meuuuu professor :p

**************AGORA MINHAS RESPOSTAS********************************************
Essa  foi pra Noriaiá...
Norinha queridaiaiá: realmente, a cousa foi tensa. Mas é uma dor que vale à pena né? E, como diz o meu pai, pôxa, o cara paga pra sofrer!!!! E o pior é que bem naquela semana que ninguém pode nem tocar ali, sempre tem um FDP. que te cumprimenta com um soco ou um apértão bem na dor....!!!! Aí é demais...!!!! Mas, pelo pouco que deu pra ver na tua Tattoo, ficou super legar a florzona!!!! Bjao nora...
ps: quanto ao "buchinho" do meu filho ser sexy, discordo plenamente.. e deu pra ver até que o cara tava com uma cueca velha, daquelas que mais parece uma fralda!!! Mas, fazer o que né? Gostos, gostos, gostos...
bjos
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Essa foi para o Giovanni, meu filho tatuado mais velho
Fiiiiooo...!!! Miraculus miraculosus!!! Você comentando meu blogui!! Cara, vai cair um pé d'água!!!! Bom, na real mesmo, dá pra imaginar a dor que você sentiu. Véio, o Bruno tatuou um dragão e vai me mandar a foto. Logo te mando e publico aqui também... Imagino tu chegando em casa mole e febril... rárárá... nao sei como a Iaiá te aguenta!!! Meu projeto agora é reformar as do lado direito, fazer algo nas costas e na perna - na batata. Mas, se o Ramon tocar no meu sovaco de novo mato ele!!!!
Bjao fio.. te amo véio!!!!!
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Essa  foi pro Diogo
Pois é, há professores e professores tatuados.... fazer o que ne? A gente está lá, assistindo aula e acreditando no que o cara lá na frente fala... E nem desconfia que o "bixo" é todo tatuado... Abrax...